"Witkoff, chefe da delegação norte-americana, abandonou as negociações há alguns minutos porque tinha um voo para apanhar", declarou o porta-voz da diplomacia iraniana, Esmaïl Baghaï, à televisão estatal, após uma reunião de três horas e meia.

Apesar da partida do negociador dos EUA, as conversações prosseguem entre representantes das duas partes "numa atmosfera profissional e calma", segundo o mesmo porta-voz.

A reunião está a decorrer na residência do embaixador de Omã em Roma e é mediada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do sultanato, Badr bin Hamad al-Busaidi, que atua como intermediário entre os dois países, que não mantêm relações diplomáticas desde 1980.

O Irão e os Estados Unidos iniciaram esta ronda de negociações nucleares com posições muito afastadas devido a divergências sobre o enriquecimento de urânio iraniano, que Washington quer travar.

Segundo a televisão estatal iraniana, a delegação de Teerão não conta com peritos técnicos nesta ronda, como no passado, uma vez que procura clarificar a posição dos Estados Unidos.

Washington identificou o "enriquecimento zero" do Irão como "linha vermelha", enquanto o Irão afirma que não haverá acordo se esta exigência for mantida, algo que reiterou hoje.

"Zero armas nucleares = [é igual] temos um acordo. Enriquecimento zero = NÃO temos acordo", escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros e principal negociador iraniano, Abbas Araqchi, nas redes sociais, antes de partir para Roma.

"É tempo de decidir", acrescentou, numa aparente mensagem dirigida à parte norte-americana, liderada por Witkoff.

As tensões entre os dois países aumentaram depois de Witkoff ter dito ao canal norte-americano ABC, no domingo, que o enriquecimento de urânio pelo Irão é uma "linha vermelha" para Washington.

Na terça-feira, o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, classificou a posição dos Estados Unidos sobre o enriquecimento de urânio como absurda e previu que as negociações com o seu arqui-inimigo não seriam bem-sucedidas.

Apesar das tensões, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acredita que o diálogo nuclear com o Irão está "no bom caminho", disse na quinta-feira a porta-voz presidencial, Karoline Leavitt.

A porta-voz referiu que Trump falou sobre as conversações com o Irão numa conversa telefónica com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

"Discutiram um possível acordo com o Irão, que o Presidente acredita estar a avançar na direção certa", disse Leavitt numa conferência de imprensa.

Teerão e Washington iniciaram as negociações em 12 de abril e tiveram a mais recente reunião a 11 de maio, que ambas as partes descreveram como "encorajadora e útil".

Os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, e Israel há muito que suspeitam que o Irão pretende adquirir armas nucleares. Teerão rejeita as alegações e defende ter o direito à energia nuclear para fins civis, nomeadamente energéticos.

Um anterior acordo com o Irão foi concluído em 2015, mas caducou com a decisão de Trump de retirar os Estados Unidos do pacto em 2018, durante o seu primeiro mandato presidencial (2017-2021).

O acordo envolvia também a China, a França, a Rússia, o Reino Unido e a Alemanha, e limitava o programa nuclear do Irão em troca do levantamento das sanções económicas.

Desde que regressou à Presidência, em janeiro, Trump apelou ao Irão para negociar um novo texto, mas ameaçou bombardear o país se a diplomacia falhasse.

 

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