A Polícia de Segurança Pública (PSP) adianta que os dois detidos na quinta-feira, no Martim Moniz, são portugueses e ficaram em prisão preventiva. Em relação às revistas a dezenas de pessoas, o superintendente diz que foram “procedimentos de segurança” e afasta discriminação. A operação foi realizada devido a denúncias de ocorrências com armas brancas.

A PSP marcou uma conferência de imprensa, esta sexta-feira, para esclarecer a operação policial.

O superintendente Luís Elias, comandante metropolitano de Lisboa, explica que a operação, que decorreu entre as 15:00 e as 17:30 na Rua do Benformoso, foi “devidamente coordenada” com o Ministério Público após “diversas denuncias e participações de ocorrências com a utilização de armas brancas”.

“Estas ocorrências são maioritariamente crimes violentos e graves, 52 crimes que ocorreram no ano passado e este ano”, afirma.

No dia 31 de maio, houve um homicídio com recurso a uma arma branca naquele local, acrescenta o superintendente. Já este fim de semana, voltou a haver “alguns incidentes”, como o apedrejamento de carro de patrulha.

Na conferência de imprensa, o comandante metropolitano de Lisboa refere que foram emitidos 6 mandados de buscas não-domiciliárias a estabelecimentos.

Duas pessoas foram detidas - de nacionalidade portuguesa - e ficaram em prisão preventiva. Uma delas tinha mandado de detenção por oito crimes de roubo.

A operação policial resultou ainda na apreensão de quase 4 mil euros em dinheiro, sete bastões, documentos, uma arma branca com uma lâmina de 17,5 cm, um telemóvel que tinha sido furtado e artigos contrafeitos.

Revistas na rua: o que justifica?

O enorme aparato na zona, onde moram e trabalham muitos imigrantes, levou à circulação de imagens nas redes sociais em que se vislumbram dezenas de pessoas encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia.

Sobre as revistas, que garante terem sido feitas com suporte legal, o superintendente Luís Elias esclarece que foram feitas a “cidadãos que se encontravam no local” para “garantir segurança e integridade física dos polícias e de todos os intervenientes no local”.

“A égide desta operação é a deteção de armas e, nesse sentido, tivemos que promover a realização de revistas”, acrescenta.

O responsável diz que são “procedimentos de segurança” para garantir que "ninguém tem uma arma".

“Foi respeitada, julgo eu, a dignidade de todos. Todos foram identificados. Não houve quaisquer incidentes a registar (…). Pensamos que os objetivos foram atingidos. Iremos continuar a incidir naquela e noutras áreas onde temos índices de criminalidade mais elevados”, sinaliza.

O comandante metropolitano de Lisboa afasta qualquer “discriminação”.

“Não desenvolvemos a nossa ação de forma discriminatória nem em função da nacionalidade, religião ou etnia. Toda e qualquer alusão é injusta e quase insultuosa”, considera Luís Elias.

Operação começou a ser planeada “há alguns meses”

Já o subintendente Rui Costa, da Divisão de Investigação Criminal, explica que a operação, que “começou a ser planeada há alguns meses”, em setembro/outubro, para ser "efetivada no final do ano”, decorreu na quinta-feira à tarde porque as autoridades identificaram que a “maior incidência de crimes” decorria à quinta-feira entre as 14:00 e as 18:00.

“Identificámos que tínhamos 52 ocorrências criminais com a utilização de armas naqueles locais", diz.

O objetivo? Ir ao encontro da “realidade criminal devidamente analisada e devidamente enquadrada”.

“Quando vamos para a rua vamos com o foco principal de garantir segurança pública (…). Foram apreendidas algumas armas, estupefacientes (…). Uma faca retirada das ruas poderá significar menos uma pessoa que é agredida com essa faca. Estamos a falar de uma faca. Uma faca, um bastão, já justificaria o trabalho da tarde de ontem”, remata.

A operação da PSP decorreu sem incidentes, destaca Rui Costa.

Autarca de Santa Maria Maior “profundamente indignado”

O presidente da junta de freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, diz estar “profundamente indignado”. Considera que a forma como a operação foi realizada "cria uma perceção de que a insegurança e o perigo estão numa comunidade".

Miguel Coelho lamenta que "agora esteja na moda ter como alvo a população imigrante do subcontinente indiano", algo que considera "errado", porque "são pessoas pacíficas na sua maioria".

Considera ainda que a ministra da Administração Interna não tem condições para continuar em funções.

Primeiro-ministro diz que ações são importantes para tranquilizar cidadãos


Já o primeiro-ministro, Luís Montenegro, considera que as operações policias, como a de quinta-feira no Martim Moniz, são importantes para fiscalizar atividades ilícitas.

"É muito importante que operações como esta decorram, para que haja visibilidade e proximidade no policiamento e fiscalidade de atividades ilícitas", declarou.

Para Luís Montenegro, este tipo de operações policias vêm não só combater as "condutas criminosas", mas também aumentar a "tranquilidade dos cidadãos".