Numa declaração política enviada, esta segunda-feira, às redações, Miguel Prata Roque comenta a noite eleitoral que o Partido Socialista (PS) viveu e que ditou a saída de Pedro Nuno Santos, contestando, desde logo, que a governação durante “21 dos últimos 30 anos” criou uma “estrutura pesada, rotineira, conformada e apenas focada na manutenção de pequenos poderes pessoais”.

Acontece que, defende, não só “as pessoas querem mais” como, diz, “já não estão dispostas a ouvir os mesmos ‘clichés’ estafados e a assistir à contradição entre o discurso e a prática”. Como exemplo dessa fadiga, Prata Roque recorrer a dados concretos da noite eleitoral.

“Nos grandes centros urbanos, o PS perdeu o apoio das pessoas mais instruídas, mais dinâmicas e mais criativas. Em especial, no distrito de Lisboa (que inclui a Área Urbana de Lisboa), o PS foi reduzido à condição de terceiro, em Alenquer, Arruda dos Vinhos, Cadaval, Lourinhã, Mafra, Sintra, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras, perdeu Vila Franca de Xira e Odivelas”

Mas, prossegue, “não é mais possível continuar a funcionar em circuito fechado, conformando-nos com um partido de funcionários e de pequenos poderes locais". Pelo que se “impõe”, escreve, “uma reflexão, profunda e corajosa, sobre as razões deste afastamento” para que, sustenta, o PS continue a ser “uma força de mudança e de transformação”.

“O PS ou abre janelas ou sufoca. O PS ou se rejuvenesce ou definha. O PS ou se modera ou acantona”

Além de uma reflexão, segundo o ex-candidato à liderança da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS, há nove pontos que se impõem para “um centro-esquerda inovador, criativo, europeísta, transatlântico, fraterno e democrata. Mas moderado”.

Desde logo, importa na opinião do comentador SIC, garantir que as Eleições Diretas “são marcadas apenas para depois das Eleições Autárquicas, (…) de modo a permitir a discussão democrática e plural de ideias e garantir a abertura a novas candidaturas”.

Além disso, também o Congresso Nacional deve acontecer “apenas no início de novembro, para que possa ser a/o nova/o líder a tomar decisões sobre a votação do Orçamento de Estado para 2026”, e deve assegurar-se desde já que durante “o período de transição na liderança”, Carlos César assume “as funções de Secretário-Geral interino”.

Prata Roque defende ainda a realização de primárias em 2027 para eleger o secretário-geral e que as mesmas sejam abertas a simpatizantes e pessoas não inscritas no PS "de modo a evitar o processo secretista e totalmente desligado da vontade das populações que se tem vindo a assistir quanto à escolha de candidatos a deputadas/os".

Primárias sugere também para “as autárquicas de 2029”, bem como o fim da obrigação do “pagamento de quota como condição para exercício do direito de voto nas eleições internas,” e para, sublinha, “eliminar sindicatos de voto”. A terminar, Prata Roque propõe ainda “reuniões abertas à participação de cidadãos não inscritos” e a criação de “um mecanismo de voto eletrónico” para ser aplicado nas eleições internas.

“Acima de tudo, há que colocar os interesses do país à frente da pequena política e do taticismo matreiro. Há demasiadas pessoas a precisar de quem lhes dê voz. Mas, para isso, é preciso assumir os erros e reconstruir”

O pior resultado desde 1985

O PS perdeu 400 mil votos nas legislativas deste domingo, em comparação com as de 2024. De acordo com os dados da Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI), e tendo em conta que faltam ainda apurar os votos dos círculos da emigração que só deverão ser conhecidos a 28 de maio, o PS conseguiu 1.394.501 votos, menos 417.968 do que há um ano (1.812.469 votos).

E Pedro Nuno Santos não resistiu a este pesado resultado, o pior do PS desde 1985. O secretário-geral do PS anunciou não só a demissão como garantiu que não será recandidato, anunciando uma Comissão Nacional do partido para o próximo sábado.

“Assumo as minhas responsabilidades como líder do partido, como sempre fiz no passado, sempre que achei que deveria assumir responsabilidades, vou, por isso, pedir eleições internas à Comissão Nacional”, anunciou mas, e citando Mário Soares, vincou: “Só é vencido quem desiste de lutar e eu não desistirei de lutar. Até breve. Obrigado a todos”.