Bill Owens, o produtor e principal responsável pelo programa de investigação norte-americano "60 Minutes", anunciou, esta terça-feira, a sua demissão, numa altura em que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou uma batalha legal contra o programa.

"Nos últimos meses, tornou-se claro que não me será permitido continuar a dirigir o programa como sempre fiz. Tomar decisões independentes com base no que é correto para o "60 Minutes" e para o público", escreveu Bill Owens, um veterano jornalista do programa, numa mensagem dirigida à sua equipa.

"É por isso que, depois de ter defendido o programa e aquilo por que lutamos, de todos os ângulos, ao longo do tempo e com todas as minhas forças, me demito para que o programa possa continuar", acrescentou o produtor executivo.

O programa semanal, que atrai cerca de dez milhões de telespetadores todos os domingos para assistir a reportagens marcantes sobre a sociedade americana ou de zonas de guerra, é um dos mais visados pela ofensiva do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra os meios de comunicação social.

Trump processou o programa em 2024

No final de outubro de 2024, o republicano processou o programa, acusando-o de ter manipulado uma entrevista com a sua rival democrata Kamala Harris, a 7 de outubro.

Estas acusações foram firmemente refutadas pelo programa e pela estação CBS News, e alguns observadores consideram-nas infundadas.

Desde a chegada de Trump à Casa Branca, o programa continuou a transmitir críticas à administração Trump e o Presidente dos EUA apelou ao seu fim, enquanto Elon Musk desejou "longas penas de prisão" para as equipas do "60 Minutes".

O litígio tem como pano de fundo o projeto de fusão entre a Paramount, empresa-mãe da CBS News, e a Skydance, que tem de ser aprovado pela Autoridade Reguladora das Telecomunicações (FCC, na sigla inglesa), presidida por Brendan Carr, aliado de Donald Trump.

Presidente pede 20 mil milhões de dólares

Com Donald Trump a reclamar 20 mil milhões de dólares (cerca de 17,5 mil milhões de euros) de indemnização à rede, a possibilidade de uma mediação entre a Paramount e o republicano é frequentemente evocada.

No início de fevereiro, Bill Owens tinha assegurado às suas equipas que não pediria desculpas em tal eventualidade, como revelou o New York Times.

No final de 2024, a ABC News aceitou pagar 15 milhões de dólares para um fundo destinado a financiar "uma fundação e um museu" dedicados a Donald Trump, a fim de evitar um processo por difamação contra o republicano, uma concessão vista como uma vitória para o presidente americano.

Com Lusa