O Presidente cessante de Moçambique, Filipe Nyusi, pediu, esta quarta-feira, aos moçambicanos apoio para Daniel Chapo, que tomou posse esta quarta-feira, apontando que tem um projeto de "esperança" e vai "costurar feridas e ressentimentos" de todos os cidadãos.
"O povo moçambicano conferiu legitimidade não apenas a um novo dirigente, mas a um projeto de esperança dos moçambicanos. Será este moçambicano que nos irá abraçar a todos sem qualquer distinção, será este dirigente que saberá congregar todos os esforços na construção de um país melhor", declarou Filipe Nyusi, na Praça da Independência, no centro de Maputo, onde decorre a investidura de Daniel Chapo como quinto Presidente de Moçambique.
Naquele que foi o seu último discurso como Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi pediu união à volta do programa de governação de Daniel Chapo, defendendo que é o caminho para assegurar o desenvolvimento do país.
"Será ele que irá costurar as feridas, soturar os ressentimentos e ajudar a encontrar tudo o que nos une na nossa caminhada coletiva (...) Aquilo que nos une é certamente maior e mais urgente do que aquilo que nos pode dividir. Daniel Chapo é a pessoa certa para proceder a esse reencontro de ideias que, sendo diversas, servem o mesmo propósito, que é unir e fortalecer a nossa nação", acrescentou Nyusi.
Ainda no seu discurso, o chefe de Estado cessante pediu a continuação diálogo político em curso entre as formações partidárias visando colocar fim à tensão pós-eleitoral, afirmando que é o caminho para a "segurança, harmonia, ordem e tranquilidade pública".
Nyusi apelou igualmente ao fim dos ataques terroristas que se registam desde 2017 na província de Cabo Delgado, norte do país.
"Fiz a última reunião com as Forças de Defesa e Segurança e tivemos uma boa notícia: estão completamente desarticulados os terroristas, uns abandonaram o país e mais uma vez quero deixar a última palavra: entreguem-se, os moçambicanos não têm ódio permante. Já nos fizeram saber que querem sair mas estão com medo de represálias. Não heverá, podem ir, juntem-se às famílias", disse.
Os "desafios de dimensão histórica" dos últimos 10 anos
No seu discurso de despedida enquanto chefe de Estado, Nyusi voltou a fazer uma radiografia dos seus 10 anos de governação, em que lembrou que foram marcados por desafios relativos ao combate ao terrorismo bem como a destruição de infraestruturas com a passagem de vários ciclones.
"É importante lembrar que juntos tivemos de enfrentar desafios de dimensão histórica, um desses desafios foram os desastres naturais que causaram a morte de centenas de compatriotas, a destruição de infraestruturas que afetaram setores estratégicos da nossa economia", disse.
Chapo foi investido esta quarta-feira, em Maputo, como quinto Presidente da República de Moçambique, o primeiro nascido já depois da independência do país, numa cerimónia com cerca de 2.500 convidados e a presença de dois chefes de Estado.
Atual secretário-geral da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Daniel Chapo era governador da província de Inhambane quando, em maio de 2024, foi escolhido pelo Comité Central para ser candidato do partido no poder à sucessão de Filipe Nyusi, que cumpriu dois mandatos como Presidente da República.
Centenas de mortos nos protestos
Em 23 de dezembro, Chapo, 48 anos, foi proclamado pelo Conselho Constitucional como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, nas eleições gerais de 09 de outubro, que incluíram legislativas e para assembleias provinciais, que a Frelimo também venceu.
A eleição de Daniel Chapo tem sido contestada nas ruas desde outubro, com manifestantes pró- Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos mas que reclama vitória - a exigirem a "reposição da verdade eleitoral", com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que já provocaram 300 mortos e mais de 600 pessoas feridas a tiro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.
Venâncio Mondlane convocou três dias de paralisação e manifestações, desde segunda-feira, contestando a tomada de posse dos deputados eleitos à Assembleia da República e a investidura do novo Presidente da República, hoje.