
O secretário-geral do PCP defendeu hoje que chegou o momento de "clarificar os que apoiam, são coniventes ou se opõem" ao rumo da AD e assegurou que o seu partido não deixará passar o programa do Governo "sem contestação".
"Aos que afirmam que é cedo para avançar com a rejeição do programa do Governo, nós dizemos que sabemos bem o que aí vem e é agora o momento para clarificar os que apoiam, os que estão coniventes, os que se opõem ao rumo que está em curso e à agenda que está em preparação", afirmou Paulo Raimundo num discurso durante um comício nos Bombeiros Voluntários de Queluz, em Sintra.
O secretário-geral do PCP defendeu que é agora o momento de as forças políticas clarificarem se são favoráveis, "sim ou não ao desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), ao assalto à Segurança Social, às alterações às leis laborais e a mais precariedade, às privatizações".
"É tudo isto que está em causa e é sobre isto que cada um vai ter de optar. E fazê-lo agora: não é depois do mal feito que se vêm lamentar, é agora que tudo temos de fazer para travar o que está em curso", avisou.
Paulo Raimundo garantiu que, com o PCP, "um programa cuja política se conhece, independentemente da composição do Governo, não passará sem contestação".
"Com o PCP, cada um vai ser obrigado a se clarificar. A iniciativa do PCP é um sinal de combate, mas é também uma perspetiva de luta e abrir um caminho de esperança para o nosso povo e para os trabalhadores. É isso que está em causa com a nossa iniciativa", referiu Paulo Raimundo, recebendo o aplauso das centenas de militantes que sobrelotaram o salão dos Bombeiros Voluntários de Queluz, com várias pessoas a ouvirem o discurso de pé e algumas a terem de ficar fora da sala.
Num discurso sobretudo de mobilização, em que insistiu que este é o momento de "resistir e combater", Paulo Raimundo frisou que os resultados das legislativas, com o aumento do PSD, Chega, IL e CDS, foram "uma evolução negativa" e comportam "riscos e perigos sérios da intensificação da agenda reacionária".
"Uma realidade perante a qual não é aceitável entendimentos com a direita, com as suas conceções reacionárias, retrógradas e antidemocráticas, nem muito menos dar suporte à sua política antipopular. O que se impõe, neste momento, é resistência, determinação e combate", vincou, com os apoiantes a entoarem o cântico "a luta continua".
Entre as várias críticas que deixou ao que considerou ser o projeto da direita, Paulo Raimundo disse que "eles querem pôr a mão na Segurança Social", querem que os trabalhadores trabalhem "mais horas e mais anos", "arrasar com o SNS" e "fazer negócio com tudo".
Depois, numa alusão ao projeto de revisão constitucional anunciado pela Iniciativa Liberal (IL), Paulo Raimundo acusou a direita de querer "dar o golpe" na lei fundamental, contraponto que "o que o povo precisa é que cada artigo da Constituição tenha uma tradução na vida de todos e de cada um".
"Nós não precisamos de rever. Nós precisamos é de cumprir e fazer cumprir a Constituição na vida de todos nós", frisou.
Sobre o resultado eleitoral da CDU - que elegeu três deputados, menos um do que há um ano -, Paulo Raimundo disse que "contrariou os vaticínios" dos que antecipavam que o PCP ia desaparecer e foi um "sinal de resistência" num "quadro de uma profunda ofensiva ideológica".
Numa alusão ao Chega, que nunca referiu diretamente, Paulo Raimundo criticou as forças que "se alimentam das angústias, das dificuldades da vida, das incertezas, da precariedade, das promessas e más promessas que são eternamente adiadas e que nunca são concretizadas"
"Forças para quem vale tudo: a mentira, a encenação, a demagogia ou o golpe. Tudo serve para enganar e tentar impor a sua agenda reacionária. São o pior que o sistema produz", criticou, acusando-os de "fomentar a guerra entre trabalhadores para favorecer aqueles que se acham donos disto tudo".