“É essencial realizar ensaios clínicos pediátricos, porque as crianças não são pequenos adultos. Temos sempre de testar os medicamentos em população pediátrica, numa dose adaptada às características das diversas fases do crescimento e desenvolvimento da criança, e à doença”, refere Ximo Duarte. Defende, ainda, que “é muito importante que aumente o número de ensaios em Oncologia Pediátrica no país”.

Neste momento, Portugal participa em quatro ensaios clínicos com crianças com cancro (três deles da iniciativa dos investigadores), com aproximadamente 45 doentes. Entretanto, haverá, em breve, mais três ensaios de fase 2 e um de fase 3, todos da iniciativa dos investigadores.

Todos estes projetos são internacionais, porque, como explica, “o cancro pediátrico é raro, sendo diagnosticados, por ano, em Portugal, 400 casos (70 casos de leucemia linfoblástica aguda)”. Sendo uma amostra pequena, é necessário integrar estudos internacionais. “Apenas desta forma se pode ter evidência científica robusta.”

Mas, mesmo com parcerias entre países, há dificuldades em ter mais doentes portugueses em ensaios clínicos. O oncologista pediátrico do IPO Lisboa aponta, como uma das razões, a falta de meios humanos e financiamento. “Há vários procedimentos que envolvem estes estudos e que exigem pessoas com experiência nas várias tarefas, como coordenação, introdução e monitorização de dados.”

Além disso, acrescenta, contrariamente à realidade dos ensaios clínicos em adultos, os do cancro pediátrico são maioritariamente ensaios de iniciativa dos investigadores. “Não se trata apenas de estudar uma molécula, mas a combinação de vários medicamentos, que nem sempre são novos. E, como somos poucos especialistas, nem sempre temos o tempo suficiente para conjugar investigação com assistência aos doentes.”

Por isso, defende a criação de uma estrutura que centralize os vários aspetos da submissão e condução dos ensaios clínicos pediátricos e permita uma gestão eficaz dos recursos, levando a um aumento de ensaios clínicos e da participação de doentes com cancro pediátrico. Questionado sobre a aceitação dos pais ou dos adolescentes – que podem dar a sua autorização a participar nos ensaios a partir dos 16 anos de idade – Ximo Duarte diz que há resistências, por receios, mas as mesmas são desconstruídas se se conversar abertamente, e com tempo, com os pais. “Ainda há pais que receiam que os filhos sejam tratados como cobaias.”

Espera, assim, que se venha a apostar mais em ensaios clínicos em Portugal no futuro, porque a participação permite avançar no conhecimento e melhor tratamento das doenças oncológicas, para além de outros benefícios indiretos, como o acesso precoce a medicamentos inovadores ou a colaboração em redes internacionais de especialistas.

MJG

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