A repatriação das cadeias de abastecimento internacionais parece ser um dos principais objetivos da guerra comercial desencadeada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Num relatório publicado hoje, em vésperas da sua reunião ministerial anual, em que o confronto comercial desencadeado pela chegada de Trump à Casa Branca será o centro das atenções, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) tenta defender a sua doutrina de base, o liberalismo, a contragosto da posição do principal país membro.

Na análise das cadeias de abastecimento, a OCDE constata que a dependência em relação à China aumentou enormemente em 25 anos, mas insiste que o seu alcance é limitado e, sobretudo, que o remédio não é a retirada de dentro das suas próprias fronteiras, mas procurar uma maior diversificação no mercado internacional.

A principal conclusão da análise da OCDE é que "certas medidas de aproximação das cadeias de valor ao território nacional (deslocalização) poderiam revelar-se dispendiosas e não assegurariam necessariamente uma maior estabilidade face aos choques".

De facto, adverte que esse repatriamento poderia resultar numa queda de mais de 18% do comércio mundial e numa redução de mais de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, com perdas que variam entre 1,1% e 12,2%, dependendo do grau e da natureza da integração de cada país nas cadeias de valor.

O estudo afirma que, em mais de metade dos casos estudados, um regime localizado conduziu a "um declínio na estabilidade do PIB", o que, na sua opinião, mostra que a "abertura e a diversificação geográfica" das fontes de abastecimento da economia e das exportações oferecem "importantes possibilidades de adaptação" a choques e perturbações.

Os autores do estudo admitem que os acontecimentos dos últimos anos - pode-se pensar na crise da covid-19, mas também nas restrições a vários fluxos comerciais na sequência da invasão russa da Ucrânia - aumentaram a consciencialização para os riscos da dependência do abastecimento internacional.

A este respeito, recordam que 70% das exportações mundiais são bem diversificadas e "apenas cerca de 30% dos produtos" apresentam níveis de concentração "elevados", ou seja, com pelo menos o dobro da concentração possível no mercado mundial.

Entre o final da década de 1990 e o início da década atual, a percentagem de produtos altamente concentrados aumentou, em média, 50% nas importações mundiais, enquanto o aumento foi ligeiro nas exportações.

O que é notável nesta evolução é, por um lado, o facto de esta concentração ter afetado principalmente os países de baixos rendimentos e as economias emergentes, mas apenas em pequena medida os países da OCDE.

Acima de tudo, a China é a principal explicação para esta tendência, uma vez que a sua quota nas importações provenientes do resto do mundo aumentou de 5% para 30% nos 25 anos em análise, enquanto as antigas grandes potências exportadoras, os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão, viram o seu peso combinado diminuir de 30% para 15%.

O gigante asiático é o principal parceiro comercial em 30% dos casos em que se regista um elevado nível de concentração das importações de um produto, contra 5% no final do século passado. Esta dependência da China é, no entanto, muito menor no que respeita às exportações (6%, contra 2% há 25 anos).

A dependência da China é particularmente forte em relação às outras grandes economias emergentes, como o Brasil, a Índia, a Indonésia, a Rússia e a África do Sul, para as quais era o principal parceiro comercial em 60% dos casos de importações sobre concentradas no início da década de 2020, em comparação com 9% no final da década de 1990.

MC // MSF

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