
Assistindo às peças nos noticiários sobre as ações de pré-campanha, as apresentações dos programas eleitorais e os primeiros debates, a sensação que tenho é a de que estou a ver uma reportagem sobre as eleições do ano passado. Os protagonistas são os mesmos, as propostas vão ser aquecidas na airfryer e as sondagens apontam para um resultado análogo ao de 2024. Tudo indica que esta corrida eleitoral vai realizar-se em passadeira de ginásio: cansará bastante, mas ficaremos no mesmo sítio.
Os primeiros sinais indicam que teremos pela frente uma campanha arrojada, original e construtiva. Por exemplo, julgo que temos todos a ganhar se centrarmos o debate na clássica disputa "O senhor é como o Sócrates"; "não, não. O senhor é que é como o Sócrates." O elevado número de indecisos só pode dever-se ao facto de os atores políticos do presente serem todos tão brilhantes.
Não sei se este nível de disputa de ideias vai contribuir para a abstenção. De qualquer forma, é capaz de fazer com que grande parte dos portugueses vote sem grande certeza. Os portugueses não vão eleger um líder inspirador, vão votar naquele que lhes dê a garantia de que não vai avariar no próximo ano. Isto não é um sufrágio, é um teste comparativo de eletrodomésticos da DECO. Vai certamente haver muito voto de Proteste.
As sondagens em nada indicam que o ato eleitoral de 18 de maio vai servir para "devolver a estabilidade ao país". É duvidoso que umas eleições que se realizam no momento em que se desconfia tanto do primeiro-ministro como da oposição produzam estabilidade. As muletas conferem estabilidade a um coxo, porém, não é adequado receitá-las se o paciente também tiver os dois braços partidos. Estas eleições pararam o país e, em princípio, não vão curar nenhum problema ortopédico. O nosso presidente hipocondríaco considera-as uma panaceia, só que desta vez são um suspenso rápido.
Com cada piscar de olho assessorado por um guru da comunicação que sustenta as suas recomendações nos resultados de vários focus groups, os políticos portugueses estão domesticados. Montenegro não assume os seus erros, Pedro Nuno não assume a sua personalidade, Mortágua não assume que não gosta de estrelar em TikToks. O Mundo está em convulsão; eles permanecem sossegados. O político português não é O Leopardo, é o gatinho. Em Maio, é preciso que nada mude para que tudo fique na mesma.