O Prémio Nobel da Química foi hoje atribuído metade ao cientista norte-americano David Baker, e a outra metade ao britânico Demis Hassabis e ao norte-americano John Jumper por "revelarem os segredos das proteínas através da computação e da inteligência artificial", anunciou a Real Academia Sueca de Ciências, em Estocolmo.
" O Prémio Nobel da Química 2024 é sobre as proteínas, as engenhosas ferramentas químicas da vida. David Baker conseguiu a proeza quase impossível de construir tipos de proteínas inteiramente novos. Demis Hassabis e John Jumper desenvolveram um modelo de IA para resolver um problema com 50 anos: prever estruturas proteicas complexas. Estas descobertas têm um enorme potencial", diz o comunicado de imprensa do júri.
David Baker, bioquímico de 62 anos, foi premiado "pelo design computacional de proteínas", enquanto Demis Hassabis e John M. Jumper, que gerem o Google DeepMind, foram recompensados pelo seu trabalho na "previsão da estrutura das proteínas" através de inteligência artificial, de acordo com o comunicado.
Temporada Nobel 2024
Este é o terceiro dos Prémios Nobel a ser anunciado este ano, depois de ontem ter sido entregue o da Física e na segunda-feira o da Medicina aos cientistas norte-americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun pela descoberta dos microRNA. Amanhã, quinta-feira, dia 10 de outubro, será atribuído o Nobel da Literatura e na sexta-feira será conhecido o nome do novo Nobel da Paz.
O último anúncio será feito no dia 14 de outubro com o vencedor do Nobel da Economia.
Os vencedores dos prémios Nobel vão receber 11 milhões de coroas suecas (cerca de 920 mil euros). O galardão pode ser atribuído a um máximo de três laureados que partilham o montante do prémio.
A cerimónia de entrega dos prémios decorrerá em dezembro na Suécia.
Curiosidades sobre os Prémios Nobel
Os prémios Nobel nasceram da vontade do cientista e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em legar grande parte de sua fortuna a pessoas que trabalhem para “o benefício da humanidade”.
Um erro na origem dos prémios?
Em 12 de abril de 1888, o irmão mais velho de Alfred Nobel, Ludvig, morreu em Cannes, França. Mas o Le Figaro engana-se e anuncia na primeira página a morte de Alfred: "Um homem que dificilmente pode ser considerado um benfeitor da humanidade morreu ontem em Cannes. O senhor Nobel, inventor da dinamite".
Este obituário prematuro terá atormentado Alfred Nobel e terá sido a razão para a criação dos prémios. Talvez por isso Nobel tenha escrito que os prémios distinguiriam aqueles que trabalharam “em benefício da humanidade”.
Prémio apenas para pessoas vivas
Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prémio não pode ser concedido postumamente, a menos que a morte ocorra após o anúncio do nome do vencedor.
Até então, apenas duas personalidades falecidas foram recompensadas: o poeta sueco Erik Axel Karlfeldt (literatura em 1931) e o secretário-geral da ONU Dag Hammarskjöld, que foi assassinado (Nobel da Paz em 1961).
Uma vez o Nobel não foi concedido em homenagem a um vencedor falecido. Foi em 1948, após a morte de Gandhi.
Uma fortuna em troca de uma medalha Nobel
Os Prémios Nobel consistem numa soma de 11 milhões de coroas por categoria (cerca de 920.000 euros) e uma medalha de ouro de 18 quilates.
Mas o vencedor do Nobel da Paz de 2021, o jornalista russo Dmitry Muratov, conseguiu transformar ouro em fortuna, em benefício das crianças ucranianas. Em junho, a medalha de 196 gramas recebida pelo co-vencedor de 2021 foi vendida por 103,5 milhões de dólares a um filantropo anónimo, valor que foi doado à UNICEF.
Um Nobel pioneiro em 1903 sobre o aquecimento global
O físico e químico sueco Svante Arrhenius recebeu o Nobel da Química em 1903 pela sua "teoria eletrolítica da dissociação".
Mas foi outro trabalho que lhe valeu o estatuto de pioneiro: no final do século XIX, foi o primeiro a teorizar que a combustão de combustíveis fósseis - na época, especialmente o carvão - lançava CO2 para a atmosfera causando o aquecimento do planeta. Segundo os seus cálculos, a duplicação da concentração de dióxido de carbono aqueceria o planeta em 5°C - os modelos modernos preveem de 2,6 a 3,9°C. Longe de suspeitar as quantidades cada vez maiores de combustíveis fósseis que a humanidade viria a consumir, Arrhenius subestimou a velocidade a que esse nível será alcançado e previu que esse aquecimento ocorreria em 3.000 anos.