
Líderes políticos e religiosos de todo o mundo uniram-se hoje para lamentar a morte do Papa Francisco, aos 88 anos, enaltecendo o legado do primeiro jesuíta a dirigir a Igreja Católica.
Segundo o Vaticano, o Papa morreu hoje, aos 88 anos, devido a um acidente vascular cerebral (AVC), que conduziu a um coma e a uma paragem cardíaca irreversível, às 07:35 locais (menos uma hora em Lisboa) no seu apartamento, na residência Casa Santa Marta, no Vaticano.
Na sua última aparição pública, no Domingo de Páscoa, Francisco denunciou a "dramática e desprezível situação humanitária" em Gaza, sob ofensiva israelita desde outubro de 2023, e apelou ao cessar-fogo e à libertação dos reféns ainda detidos pelo grupo islamita palestiniano Hamas.
Após a mensagem, lida por um assistente, o Papa ainda apareceu no seu 'papamóvel' no meio da multidão de fiéis reunidos na Praça de São Pedro para celebrar a Páscoa e durante cerca de 15 minutos percorreu os corredores da praça e abençoou bebés, rodeado por guarda-costas.
De todo o mundo, multiplicaram-se ao longo do dia as mensagens de pesar pela morte do líder da Igreja Católica.
Em Portugal -- que Francisco visitou em 2017 e em 2023 -, o Governo propôs ao Presidente da República um luto nacional de três dias, a coincidirem com as cerimónias fúnebres, enquanto Marcelo Rebelo de Sousa falará ao país às 20:00 (de Lisboa).
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, manifestou o seu pesar pela morte de Francisco, que considerou ser "um exemplo para todos" e uma "fonte de inspiração espiritual e humana".
"Num momento de profundo pesar, uno-me em nome de todos os portugueses aos católicos em todo o mundo numa homenagem ao Santo Padre", afirmou, sublinhando que o Papa Francisco é "um exemplo para todos, católicos e não católicos".
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, recordou Francisco como "um mensageiro da esperança, da humildade e da humanidade", destacando que o pontífice "foi uma voz transcendental em defesa da paz, da dignidade humana e da justiça social".
Pela União Europeia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou que o Papa inspirou milhões de pessoas muito para além da Igreja Católica, com a sua "humildade e amor" pelos necessitados.
Já o presidente do Conselho Europeu, António Costa, recordou um líder da Igreja Católica "profundamente compassivo", que se preocupou "com os grandes desafios globais do nosso tempo, das migrações às alterações climáticas, da desigualdade à paz, mas também com as lutas quotidianas das pessoas comuns".
Os edifícios do Parlamento Europeu terão as bandeiras a meia haste, em sinal de homenagem, anunciou a presidente da instituição, Roberta Metsola.
Também as bandeiras dos edifícios públicos nos Estados Unidos ficarão a meia haste, ordenou o Presidente norte-americano, Donald Trump, que deixou uma mensagem na sua rede social, Truth Social: "Descansa em paz, Papa Francisco. Que Deus te abençoe e a todos os que te amavam", escreveu.
O Presidente russo, Vladimir Putin, saudou o chefe da Igreja Católica como um "líder sábio" e um "defensor constante dos valores do humanismo e da justiça", destacando o seu "contributo ativo" para o "desenvolvimento do diálogo entre as Igrejas Ortodoxa Russa e Católica Romana, bem como para a interação construtiva entre a Rússia e o Vaticano".
Já o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, sustentou que Francisco "sabia como dar esperança, aliviar o sofrimento através da oração e promover a unidade" e, recordou, que "rezou pela paz na Ucrânia e pelos ucranianos", após mais de três anos de ofensiva russa.
A defesa da paz em Gaza também foi evocada pelas nações árabes, com o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abulgueit, a destacar as "posturas corajosas" do Papa em relação à causa palestiniana, enquanto o Hamas assinalou que Francisco "foi um firme defensor dos direitos legítimos" dos palestinianos.
As palavras de homenagem vieram também de outras religiões, para um Papa que pugnou pelo diálogo inter-religioso.
O patriarca ortodoxo russo, Kiril, destacou a solidariedade do Papa Francisco com as pessoas que mais sofrem, expressando "gratidão" pela "defesa da liberdade religiosa", referindo-se à Igreja Ortodoxa Ucraniana, que alega ser perseguida pelas autoridades de Kiev, que a consideram pró-Moscovo no contexto da invasão russa da Ucrânia.
O Dalai Lama, líder espiritual dos budistas do Tibete, elogiou a "devoção e simplicidade" de Francisco, que se "dedicou a servir os outros", enquanto o chefe interino da Igreja Anglicana, Stephen Cottrell, recordou a inteligência, a compaixão e o empenho do Papa Francisco em melhorar as relações entre as religiões do mundo.
Por outro lado, a principal instituição do Islão sunita evocou Francisco como "um símbolo de humanidade" e a quem agradeceu os esforços no combate à islamofobia e na promoção do diálogo inter-religioso.
O funeral deverá decorrer dentro de um período de nove dias e o conclave para eleger o seu sucessor dentro de um mês.
Durante esta fase, chamada Sede Vacante, caberá ao cardeal camerlengo, Kevin Joseph Farrell, gerir o quotidiano do Palácio Apostólico, não podendo ser tomadas decisões de relevo.
Certo é que o funeral será, por decisão de Francisco, mais simples que os dos seus antecessores, depois de o líder católico ter aprovado mudanças e a simplificação do ritual das exéquias para destacar o seu estatuto de fiel cristão face ao de chefe da Igreja Católica.
Francisco será também sepultado na igreja de Santa Maria Maior e não na cripta da Basílica de São Pedro, como tradicionalmente.
Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome pelo qual desejava ser conhecido numa homenagem a São Francisco de Assis, o santo dos pobres.