Os mitos associados à vacinação impedem não só a prevenção de doenças, como têm motivado o ressurgimento de algumas já erradicadas em alguns países. Eis os principais mitos e factos.

MITO: A imunidade individual e a imunidade de grupo são basicamente a mesma coisa.

FACTO: Estes são conceitos fundamentalmente diferentes. A imunidade individual é um mecanismo natural do corpo humano que lhe permite reconhecer e defender-se de agressões externas. Pode também atuar face a agressões internas, protegendo-nos de diversas doenças, nomeadamente oncológicas. Este sistema sofisticado aprende a lidar com cada invasor, desenvolvendo respostas específicas, que podem ser reforçadas através da vacinação. Com as vacinas, treinamos o sistema imunitário a reagir contra agressores específicos. Por isso, em algumas situações é necessário repetir a vacinação periodicamente, porque os agentes infeciosos podem sofrer mutações. Há vacinas que devem ser administradas todos os anos, como a da gripe ou a da covid-19, e outras que se repetem ao fim de uma década ou mais, como a do tétano, conforme a nossa memória imunológica se mantém e os agentes se modificam.

Já a imunidade de grupo resulta na menor capacidade de propagação de uma doença infetocontagiosa num determinado grupo humano ou de outros animais, quando uma percentagem significativa dessa população está vacinada. Funciona como uma barreira comunitária contra a disseminação da doença e, quanto maior for o número de pessoas protegidas no grupo, menor será a probabilidade de um vírus ou bactéria se espalhar a terceiros elementos do grupo.

MITO: Quando estamos vacinados, estamos só a proteger a nossa própria saúde.

FACTO: Vacinar-se, além de se proteger, é assumir um compromisso com os outros. Com os mais frágeis. Com o sistema de saúde. Com a sociedade. Quando optamos por não nos vacinar, colocamos em risco não apenas a nossa saúde, mas também a daqueles que nos rodeiam.

MITO: As vacinas têm um impacto limitado na nossa qualidade e esperança de vida.

FACTO: As vacinas mudaram o curso da história da humanidade. São o maior contributo clínico para o aumento da esperança média de vida, prevenindo doenças potencialmente fatais ou incapacitantes, estimando-se que salvem entre dois a três milhões de vidas todos os anos. Se hoje vivemos mais 30 ou 40 anos do que os nossos avós, não é apenas porque temos mais hospitais, mais médicos ou melhores tratamentos, é sobretudo porque aprendemos a prevenir. E entre todas as estratégias de prevenção clínica, as vacinas a par da água potável e da higiene foram, e continuam a ser, as mais eficazes. Permitem que mais crianças sobrevivam, que mais adultos envelheçam com saúde, e que os sistemas de saúde não fiquem tão sobrecarregados com doenças evitáveis.

MITO: Não há nenhuma doença que tenha sido erradicada graças às vacinas.

FACTO: A varíola foi completamente erradicada a nível mundial graças a um esforço internacional de vacinação. A poliomielite está muito próxima de seguir o mesmo caminho, com apenas alguns casos a serem registados a nível internacional. Outras doenças poderiam ser eliminadas, como o cancro do colo do útero causado pelo HPV. O principal obstáculo atual não é técnico, mas sim político e sociológico: prende-se com a aceitação ou rejeição da vacinação por parte da população. Esses movimentos de rejeição colocam em causa a saúde de todos, porque poucas vacinas têm uma eficiência de 100%. Quando aumenta o número de pessoas não vacinadas, mesmo quem está vacinado passa a estar mais exposto ao risco de contágio.

MITO: A desinformação sobre vacinas tem pouco impacto real na saúde pública.

FACTO: A desinformação e a proliferação de notícias falsas são hoje os principais motores do aumento da rejeição à vacinação. O regresso de surtos de sarampo em vários países europeus e nos Estados Unidos é um sinal de alarme: quando a cobertura vacinal diminui, as doenças reaparecem.

MITO: A vacinação é importante apenas para as crianças.

FACTO: Durante muitos anos, falou-se da vacinação como algo para crianças, mas ao longo da vida, o nosso sistema imunitário precisa de reforço e atualização. Vacinas como a da gripe, do tétano, do HPV, da pneumonia ou da zona (herpes zóster) são fundamentais para um envelhecimento saudável e com maior longevidade. Envelhecer com saúde não é uma questão de sorte, é algo que se constrói. E as vacinas são parte essencial dessa construção.

MITO: A população portuguesa está bem informada sobre a vacinação nos adultos.

FACTO: A resposta é clara: não. Embora muitos conheçam bem a vacinação infantil na altura em que são pais, a maioria desconhece que os adultos também devem manter o esquema vacinal atualizado. A vacinação contra a gripe é recomendada em Portugal todos os anos para pessoas com mais de 60 anos, doentes crónicos de risco ou profissionais de saúde. E vacinas como as da pneumonia ou da zona (herpes zóster) são fundamentais para quem pretende envelhecer com menor risco de complicações graves e internamentos hospitalares. Falta-nos ainda uma verdadeira cultura de vacinação ao longo da vida. Vacinar-se depois dos 40 ou dos 60 é tão importante como vacinar aos 4 meses.

MITO: A vacinação é inútil para proteger as populações mais vulneráveis.

FACTO: A vacinação em massa desempenha um papel essencial na proteção das populações vulneráveis. Pessoas imunocomprometidas, transplantadas, em tratamento com quimioterapia, a tomar medicamentos imunossupressores ou com doenças degenerativas, são exemplos de grupos que necessitam de especial atenção, devido à fragilidade do seu sistema imunitário. Além disso, a vacinação ajuda a reduzir a circulação de agentes infeciosos e diminui a probabilidade de mutações perigosas, contribuindo para a prevenção de pandemias.

SO

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