"Se eu não receber salário não pode interferir entre mim e o doente, mas posso reivindicar, mas deixar de trabalhar não é ético na saúde", disse aos jornalistas Ussene Isse, à margem de uma visita ao Hospital Provincial de Lichinga, em Niassa, no norte do país.

Em causa está o não pagamento do 13.º salário aos funcionários públicos, depois de o Governo indicar que a crise pós-eleitoral em Moçambique, com paralisações e confrontos desde outubro, obrigou à reformulação do Orçamento do Estado de 2024, incluindo o corte do referido vencimento, disse há uma semana o primeiro-ministro cessante, Adriano Maleiane.

Além da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), também paralisaram as atividades, por tempo indeterminado, a Associação Nacional dos Enfermeiros de Moçambique (Anemo), Associação Nacional dos professores (Anapro), Associação dos Professores Unidos (APU) e o Sindicato Nacional da Função Pública (Sinafp).

O governante, empossado no sábado pelo novo Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, afirmou ser justa a preocupação dos profissionais de saúde, mas questionou a interrupção de atividades fazendo menção ao juramento feito pelos funcionários.

Para Ussene Isse, o doente é prioridade e, por isso, "independentemente do salário, de questões políticas, chuva, tudo", é missão dos profissionais de saúde cuidar dos pacientes e "nunca deixá-los para trás".

"É justa a tua preocupação? continua a reclamar, é o teu direito, estou de acordo. Temos de ver este assunto? Estou de acordo, mas deixar de atender doentes já não é ético", frisou o responsável.

O ministro da Saúde moçambicano pediu paciência aos funcionários, referindo que há um esforço do Governo para resolver a sua situação.

"Se nós tivéssemos condições acham mesmo que nós não daríamos aquilo que são as reclamações dos trabalhadores? Daríamos", declarou Ussene Isse.

Dezenas de profissionais de saúde afetos ao Hospital Central de Maputo (HCM), o maior do país e uma das unidades da capital moçambicana, paralisaram na segunda-feira as atividades, exigindo o pagamento do 13.º mês, além de subsídios em atraso.

"O dinheiro é nosso por direito e não é favor. Nós queremos os nossos direitos", disse a agente de serviço do banco de socorros do HCM, Sónia de Almeida, em declarações à Lusa, durante as manifestações à porta do hospital.

Segundo Sónia de Almeida, consta ainda do caderno reivindicativo dos profissionais o pagamento dos subsídios de turno, risco, transporte, além da padronização do subsídio especial.

Também na segunda-feira, o porta-voz das associações de funcionários públicos em greve disse à Lusa que o tempo da diplomacia e negociações "já passou" e que só retomam às atividades depois de o Governo pagar o 13.º salário.

Isac Marrengula disse que a paralisação de atividades foi a "única solução" encontrada pelos funcionários, acusando o Governo de desinteresse em pagar o salário aos funcionários e questionando o pagamento de subsídios a outros "altos quadros" do executivo.

O Governo moçambicano admitiu, no sábado, "dificuldades" para o pagamento imediato do 13.º mês à função pública, indicando que estuda alternativas para a sua concretização, a anunciar a "breve trecho".

"O Governo vai continuar a avaliar a situação e perspetivar cenários possíveis para o pagamento do 13.º e apresentar a medida a breve trecho. Não há de ser a primeira experiência, já houve experiências diferenciadas em que o Governo criou e encontrou alternativas de pagamento parcial, por grupos, entre outras medidas", disse Inocêncio Impissa, porta-voz da sessão e ministro da Administração Estatal e Função Pública.

 

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