Sem querer tecer críticas à secretária de Estado da Gestão da saúde, Cristina Vaz Tomé, que era até agora a responsável pelos assuntos referentes ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), a ministra da Saúde anunciou que o INEM passou a estar na sua dependência direta, alegando que o instituto assume uma "prioridade enorme" devido ao alarme social dos últimos dias.
"O INEM passou a estar debaixo da minha dependência direta desde há dois dias porque é uma matéria de uma prioridade enorme como se está a ver", adiantou Ana Paula Martins, depois de se ter reunido com os responsáveis do instituto, em Lisboa.
Segundo referiu, o INEM era uma prioridade quando o atual Governo entrou em funções, mas, "por todo ao alarme social que tem causado nos últimos dias", é necessário devolver a confiança à população no sistema.
Questionada se o facto de chamar a si a dependência direta do INEM é o reconhecimento de que a secretária de Estado da Gestão da Saúde ignorou os alertas dos sindicatos sobre os impactos da greve da última semana, a ministra afirmou que a sua decisão "é apenas o reconhecimento" de que o assunto é importante, urgente e prioritário.
Perante isso, "o meu tempo no meu dia-a-dia tem de ser dedicado em mais de 70% a resolver os problemas do INEM", salientou a ministra da Saúde.
Tal como avançou o Expresso na semana passada, ao gabinete da ministra e de Cristina Vaz Tomé chegaram emails do sindicato a avisar do início da greve e a dar tempo à tutela para impedir que esta avançasse. A única resposta que obtiveram foi do chefe de gabinete da ministra da Saúde, Jorge Salgueiros Mendes, em setembro, quando perguntaram sobre a revisão das carreiras: “A revisão da carreira/salários dos TEPH será eventualmente alvo de atenção no próximo ano estando na dependência da secretária de Estado da Gestão da Saúde e da secretária de Estado da Administração Pública, pelo que de momento não dispomos de qualquer proposta concreta.”
Quando questionada pelos jornalistas sobre a crise que estava a viver-se no INEM, Cristina Vaz Tomé reagiu assim: “Não, não só este ano, eu acho que a comunicação social também está um bocadinho com anemia [sic]. Se estivessem atentos, nos últimos anos houve várias queixas; aliás, nós temos os dados desde 2019, para não ir mais atrás, e o tempo de espera que nós temos das chamadas é equivalente ao que nós tínhamos em 2019, portanto não há aqui um exagero em termos dos atrasos”.
Admitiu que o seu gabinete teve conhecimento do pré-aviso de greve, mas ainda assim disse que o Governo foi surpreendido com o impacto das duas greves em simultâneo (dos técnicos de emergência pré-hospitalar e da função pública).
As mortes de 11 pessoas alegadamente associadas a falhas no atendimento do INEM motivaram a abertura de sete inquéritos pelo Ministério Público (MP), um dos quais já arquivado. Há ainda um inquérito em curso da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
A demora na resposta às chamadas de emergência agravou-se durante a greve de uma semana às horas extraordinárias dos técnicos de emergência pré-hospitalar, que reclamam a revisão da carreira e melhores condições salariais.
A greve foi suspensa após a assinatura de um protocolo negocial entre o Governo e o sindicato do setor.