
Mário tem “cordeiro” no apelido, mas afirma odiar carneiradas e que elas o assustam.
Infelizmente os tempos do mundo andam cada vez mais permeáveis a este tipo de rebanhos que radicalizam o voto e o discurso e caminham ordeiros atrás de populistas narcisistas que nos querem conduzir a todos até ao precipício da moral e da democracia.
Como manter a esperança e o diálogo democrático nestes tempos tão perturbadores, carregados de ódio, polarização e desinformação? Esta questão é-lhe lançada logo no arranque desta conversa em podcast.
Que futuro nos espera quando até os jovens estão perdidos, frustrados e desesperançados?
Alguns deles bastante permeáveis às “fake news” e discursos populistas e de extrema direita que andam pelo TikTok e têm como ídolos influencers com narrativas extremistas, racistas, com ataques às mulheres e minorias.
Mário Cordeiro é médico pediatra e foi durante décadas professor de pediatria e de saúde pública na Faculdade de Ciências Médicas da Nova e em muitas outras instituições, designadamente todas as escolas de Enfermagem de Lisboa. E deu aulas em Valência, Barcelona e Oxford.
Quando se formou, trabalhou em Óbidos, como médico de família, no que se chamava o “Serviço Médico à Periferia”, e fez o seu estágio de especialidade no Hospital de Santa Maria.
Depois foi para a DGS, trabalhar na promoção de saúde e prevenção da doença nas crianças e jovens, e orgulha-se de ter estado na linha da frente de alguns dos enormes avanços que este país teve, desde a vacinação ao boletim de saúde infantil e juvenil, dos programas de rastreios à prevenção de acidentes e à incrível redução da mortalidade perinatal e infantil.
Foi também consultor da UE, nas áreas dos acidentes, mas também dos maus-tratos infantis, violência, qualidade de vida e vacinação, e coordenador do Observatório Nacional de Saúde.
E neste seu longo caminho fundou várias associações de apoio a crianças com doenças crónicas e não se esquivou a dar a cara por causas, sem receio de represálias.
E, quanto a isso, Mário Cordeiro cita Bethânia: “Reconhece a queda, e não desatina. Levanta, sacode a poeira, dá volta por cima”.
Mário Cordeiro é um homem de afetos e de amor. Vive com a sua mulher, num 3º casamento que já conta com quase 2 décadas, e orgulha-se dos seus 5 filhos e 7 netos, do seu cão Chopin e dos amigos.
Mário confessa aqui não ser muito social, e que detesta aparecer nos lugares para ver e ser visto. Até porque consta ser bastante tímido.
Assim, a par das consultas de pediatria, a escrita tornou-se uma das atividades profissionais a que Mário Cordeiro se dedica com mais intensidade.
Acaba de lançar o romance “Redemoinho”, pela Casa das Letras, e é já autor de perto de 60 livros, entre os chamados livros para pais e educadores, sobre vários aspetos da pediatria e da saúde infantil e juvenil, e também romances, poesia e teatro, além de biografias – uma delas dedicada ao seu avô Júlio e outra sobre Chopin, um dos seus compositores favoritos e a quem o seu amado cão deve o nome.
“Ler” é um dos verbos que Mário Cordeiro conjuga mais vezes.
Mário afirma-se mesmo um leitor voraz e um comprador de livros compulsivo, com já perto de 6500 livros em casa. Ou seja, tem a casa toda forrada a livros. E até na varanda tem estantes, de alto a baixo, com livros.
E bom para as curvas está o próprio Mário Cordeiro, que dentro de escassos meses completa a bela e redonda idade de 70 anos. “Estou como o meu carro, todos os anos vou à revisão e passo à primeira”
E nas contas da vida revela que se demora agora a pensar no que já fez e no que gostaria ainda de fazer. E que nesse diálogo de si para si surge a pergunta incontornável: “Sinto-me preparado para morrer?”
“De momento não tenho agenda para a senhora da foice. Gosto muito de viver.”
Mário Cordeiro revela ter reduzido muito o tempo de consultório e dá-se agora ao luxo de ter férias quando quer. Mas ele já conta com 48 anos de trabalho. Tantos anos quanto o tempo do fascismo em Portugal.
E garante que continua a gostar de estar com as famílias, de conversar com elas e com os adolescentes, de os surpreender com non-sense, brincadeiras, e de tentar incutir-lhes a ideia de que a vida sem relações humanas não é vida!
O que é que a idade lhe ensinou que gostaria de ter aprendido mais cedo?
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Nuno Fox. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
A segunda parte desta conversa fica disponível na manhã deste sábado.