![Marcelo espera que as negociações se façam com ucranianos e a Europa (entre criticas a Trump)](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, rejeitou negociações para o fim da guerra na Ucrânia à margem dos ucranianos e da Europa e disse temer que se desfaça a aliança que existia nesse sentido.
O chefe de Estado falava aos jornalistas no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas (ISCSP) da Universidade de Lisboa, em resposta aos jornalistas, a propósito da conversa entre os presidentes dos Estados Unidos da América, Donald Trump, e da Federação Russa, Vladimir Putin sobre a guerra na Ucrânia.
Interrogado se tinha alguma esperança no resultado dessa conversa, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que está preocupado porque "em relação à Ucrânia era muito clara qual era a aliança que existia e qual era o objetivo, que era tentar chegar a uma paz que fosse duradoura, que fosse sustentada e que fosse justa", o que, defendeu, implica que "não passasse à margem dos ucranianos nem à margem da Europa".
"Preocupa-me que isso deixe de ser assim. Espero que seja assim, quer dizer, que qualquer solução que seja encontrada para a paz, e a paz é sempre desejável, seja encontrada com os que estão envolvidos na guerra, e portanto obviamente russos e ucranianos, e também com a Europa", afirmou.
Segundo o Presidente da República, a Europa "tem tido um papel muito importante, como é público e notório, mesmo que haja setores norte-americanos que de repente queiram mudar radicalmente a sua posição em relação a isso".
Por outro lado, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou preocupação com "grandes grupos económicos" que agora funcionam como "elementos novos de entendimento" entre grandes potências, "que fazem negócios em todas elas, e portanto são intermediários privilegiados em termos de gestão mundial sem legitimidade democrática verdadeiramente".
Antes, num discurso sobre a pobreza, o chefe de Estado comentou que "o grande sinal do tempo" que se vive "é que é possível fabricar carros na China, é possível ceder plataformas à Federação Russa e fazer grandes negócios nos Estados Unidos da América, se não também na Europa, e noutros continentes".
"Como é que grandes democracias se podem converter, de repente, em poder pessoal, económico ou político, e nós assistirmos na televisão a isso?", questionou.
O Presidente da República perguntou também "como é que é possível que democracias teoricamente menos fortes, mas mais igualitárias ou menos inigualitárias, se sintam impotentes hoje em fazer passar a mensagem".
Sem nomear ninguém, Marcelo Rebelo de Sousa criticou que "um responsável internacional", perante uma afirmação do Papa Francisco, venha dizer "o Papa que se meta lá nas coisas dele, porque a Igreja são problemas religiosos, não tem nada a falar das questões políticas, económicas e sociais".
Quanto aos gastos com defesa, referiu que "a Europa está a ponderar um caminho possível que é o investimento em defesa não contar para efeitos de défice" e voltou a defender que é preciso cuidado para não "sacrificar outro tipo de investimento, social, educativo, económico".
"Isso tem como consequência, efetivamente, a criação em muitos setores da sociedade europeia de correntes fortes de oposição ao caminho escolhido para construir a paz. É, portanto, estar por um lado a querer, com uma mão, criar-se condições para haver segurança e haver paz, e com outra mão criar condições que não são nem de paz nem de segurança", considerou.
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