
O Presidente da República destacou, esta sexta-feira, entre a obra de Camilo Castelo Branco, o livro "A Queda dum Anjo", como retrato de algumas pessoas da vida política que mudam de meio e ficam perdidas ou deslumbradas.
Marcelo Rebelo de Sousa falava durante uma sessão do programa "Encontros no Palácio de Belém", que juntou a atriz Inês Castel-Branco, à conversa com alunos de escolas de Lisboa, Benavente, da Batalha e de Vila Nova de Famalicão.
Miguel, estudante do ensino secundário do Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco, de Famalicão, pediu licença para se dirigir ao chefe de Estado, a quem perguntou se "existe alguma obra de Camilo que tenha tido um impacto especial na sua vida pessoal ou intelectual".
O Presidente da República começou por responder que "um ator lê-se em várias idades" e que "em cada fase há um livro que diz mais", mas acabou por escolher "A Queda dum Anjo" como um livro que foi "tendo mais significado" para si com o passar dos anos, à medida que foi fazendo análise política.
"Como sabem, eu analiso a política há 60 anos", referiu Marcelo Rebelo de Sousa, que tem 76 anos. O chefe de Estado descreveu "A Queda dum Anjo" como "uma história de alguém que no fundo acaba por fazer política e que vem de um determinado meio, vai para um meio muito maior, deslumbra-se nesse meio maior, deslumbra-se com as oportunidades", com "uma ingenuidade, ao mesmo tempo ternurenta, mas às vezes um bocadinho despistada".
Na sua opinião, "é um bocadinho o retrato daquilo que se encontra às vezes na vida política, nos mais diversos países, quando pessoas de repente saem de um determinado meio, vão para um meio completamente diferente e têm uma dificuldade de adaptação e andam um tempo perdidos".
"Acaba por ser um mini-retrato de algumas situações que eu entretanto analisava", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, sem dar nenhum exemplo.
O Presidente da República justificou assim a escolha de "A Queda dum Anjo", apesar de ser "um livro muito levezinho" e que "não é dos principais" de Camilo Castelo Branco.
Camilo ou Eça? Marcelo escolhe
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que, entre Camilo e Eça de Queiroz, "há uma moda hoje muito grande no sentido de privilegiar o Eça, que é mais estrangeirado", mas Camilo Castelo Branco "está a ser redescoberto".
Segundo o chefe de Estado, Eça "escrevia com mais dificuldade, reescrevia não sei quantas vezes as frases, tinha o culto e o preciosismo da escrita muito, muito elaborada", enquanto Camilo "era o oposto" e "produzia imenso", com "uma prosa com mais qualificativos, com mais adjetivos, com mais movimento, que saía de jato".
"Eça é esse país urbano, é esse país metropolitano, é esse país viajado, afrancesado", enquanto "o Camilo era, se possível, mais português, mais preso às raízes", prosseguiu.
"Eu, como sou minhoto, tendo a gostar mais de Camilo do que de Eça", declarou o Presidente da República, que tem ascendência minhota por parte do pai.