O líder da oposição israelita, Yair Lapid, acusou esta quarta-feira o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, de promover um "ataque planeado e orquestrado contra a imprensa", apontando medidas de retaliação contra o jornal "Haaretz" ou a tentativa de privatização de órgãos públicos.
O assunto foi abordado numa reunião de emergência convocada pelo líder do partido Yesh Atid (Há um Futuro), no Comité de Controlo de Estado do Knesset (parlamento israelita), que contou também com a presença de representantes da comunicação social.
"Em que país, em que tipo de país, o primeiro-ministro se pronuncia no parlamento contra a ideia base de uma imprensa livre?", questionou o dirigente centrista e antigo chefe do Governo de Israel em 2022.
Yair Lapid, que também foi jornalista, apontou o caso recente da proibição de publicidade de organismos estatais no diário liberal "Haaretz", após críticas do seu proprietário à forma como Israel conduz a guerra na Faixa de Gaza, e a tentativa de privatização da rádio e televisão públicas.
Israel caiu 15 posições no índice anual de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras desde que o atual Governo assumiu o poder em 2022, quando a intimidação de jornalistas também se intensificou, sobretudo na cobertura de protestos antigovernamentais.
Lapid criticou ainda outras iniciativas legislativas dos partidos da coligação governamental, como a que procura conceder ao executivo a supervisão dos dados de audiências ou também privatizar a Rádio Oficial do Exército, um dos meios de comunicação social mais antigos de Israel.
"A democracia deve proteger-se. As duas qualidades básicas de uma democracia, que a diferenciam de qualquer outro tipo de regime, são a sua capacidade de se criticar e de melhorar. Ambas são impossíveis sem uma imprensa livre e ambas estão sob ataque", lamentou.
O líder da oposição israelita alegou que a proibição de publicidade institucional no "Haaretz" se deve à sua cobertura crítica ao atual Governo.
O jornal é o único meio de comunicação geral do país que, na sua informação sobre a guerra na Faixa de Gaza, inclui o ponto de vista palestiniano e denuncia abusos atribuídos às forças israelitas.
O Governo de Netanyahu "não quer equilíbrio, quer meios de comunicação como na Hungria, como na Rússia: moderados, assustados, submissos, superficiais", criticou Lapid.
Embora o político não se tenha referido a isso, o Governo procura também promover a chamada "lei Al-Jazeera", que visa transpor para a legislação uma disposição governamental, aprovada no ano passado, segundo a qual os escritórios do meio de comunicação do Qatar em Ramallah (na Cisjordânia ocupada) foram encerrados e as suas emissões no país foram interrompidas.
O executivo argumentou que a cobertura da Al-Jazeera do conflito entre Israel e o grupo palestiniano Hamas na Faixa de Gaza prejudicava a segurança nacional.
Se a "lei Al-Jazeera" for aprovada, outros meios de comunicação social estrangeiros podem ser sujeitos a represálias se as autoridades não apreciarem a sua cobertura jornalística.
O ministro das Comunicações de Israel, Shlomo Karh, autor da lei, argumentou que trabalha para "o bem dos cidadãos e não dos meios de comunicação social".