Um juiz federal norte-americano afirmou esta quinta-feira que vai ordenar à administração Trump que preserve registos de mensagens trocadas entre altos responsáveis na plataforma Signal, incluindo sobre planos confidenciais para um ataque militar contra os Huthis do Iémen.

O juiz James Boasberg revelou esta quinta-feira numa audiência que vai emitir uma ordem de restrição temporária que impede os funcionários do governo de destruir as mensagens trocadas através da aplicação Signal, num grupo a que inadvertidamente foi adicionado um jornalista da revista The Atlantic, que relatou o caso.

A ordem judicial foi solicitada por uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, a American Oversight.

Um advogado da administração citado pela AP afirmou que o governo já está a tomar medidas para recolher e guardar as mensagens.

Casa Branca minimizou incidente

A Casa Branca respondeu inicialmente ao artigo da revista minimizando o incidente e atacando a credibilidade do seu diretor Jeffrey Goldberg, que relatou ter sido adicionado ao grupo por Mike Waltz, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca.

Após a administração de Donald Trump ter insistido que nada na troca de mensagens no Signal era confidencial, a The Atlantic publicou na quarta-feira um novo artigo contendo quase toda a conversa, incluindo partes que num primeiro artigo não tinha publicado por razões de segurança.

O novo artigo reproduz capturas de ecrã de mensagens do secretário de Defesa Peter Hegseth com as horas precisas dos ataques planeados contra os Huthis, grupo rebelde iemenita aliado do Irão, e as armas utilizadas, todas enviadas duas horas antes dos ataques terem lugar.

A revista conta que contactou os responsáveis governamentais, afirmando que as mensagens não eram ultrassecretas, para lhes perguntar se concordavam com a publicação de mais mensagens, mais precisas do que as referidas no primeiro artigo.

A Casa Branca opôs-se, indicou The Atlantic, que, no entanto, publicou o essencial das trocas de mensagens, ocultando apenas o nome de um agente da CIA.

"12:15 - DESCOLAGEM dos F-18 (primeiro grupo de ataque)", escreveu a 15 de março o chefe do Pentágono aos outros membros do grupo, onde estavam também responsáveis do Pentágono e da CIA (agência norte-americana de serviços secretos externos).

Grupo incluía vice-Presidente

O grupo incluía também o vice-Presidente JD Vance e o secretário de Estado Marco Rubio, entre outros altos responsáveis.

O líder dos democratas na Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries, afirmou na quarta-feira que o secretário da Defesa "tem de ser despedido imediatamente se não tiver a coragem de reconhecer o seu erro e demitir-se".

A também democrata Tammy Duckworth, membro do Comité das Forças Armadas do Senado, defendeu que "claramente foi partilhada informação confidencial" e que Hegseth "divulgou-a de forma negligente".

O Presidente Donald Trump defendeu o seu secretário da Defesa destes pedidos de demissão, qualificando de "caça às bruxas" o caso divulgado pela revista The Atlantic.

O secretário da Defesa, Pete Hegseth, "está a fazer um excelente trabalho, não tem nada a ver com isto", disse Trump na quarta-feira.

Na sua decisão desta quinta-feira, Boasberg limitou a ordem às mensagens enviadas entre 11 e 15 de março no grupo.

Juiz pede esclarecimentos na segunda-feira

O juiz deu ainda instruções ao governo para lhe fornecer um ponto de situação na segunda-feira.

A advogada do Departamento de Justiça, Amber Richer, afirmou que ainda está a ser "verificado que registos as agências têm" da referida troca de mensagens.

"Estou feliz por termos conseguido encontrar uma solução", disse o juiz mais tarde.

Os advogados da American Oversight afirmam no processo judicial que a "utilização pelos réus de uma aplicação comercial não classificada, mesmo para questões de vida ou morte, como o planeamento de uma operação militar, leva à inferência inevitável de que os réus devem ter utilizado o Signal para conduzir outros assuntos oficiais do governo".

Lusa