
A ONU foi autorizada por Israel a levar "cerca de 100" camiões de ajuda humanitária para o território palestiniano de Gaza, anunciou esta terça-feira o porta-voz do Gabinete de Assuntos Humanitários da organização, Jens Laerke.
Segundo avançou o responsável em conferência de imprensa, a autorização foi recebida hoje pelas Nações Unidas, que também vão poder recuperar os primeiros cinco camiões de ajuda humanitária enviados desde que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou que ia autorizar a entrada de uma "quantidade básica de alimentos" para evitar fome em Gaza.
Nenhuma ajuda humanitária foi autorizada a entrar no território palestiniano desde 2 de março, pelo que as agências da ONU e organizações não-governamentais (ONG) que trabalham em Gaza alertam, há várias semanas, para a escassez de alimentos, água potável, combustível e medicamentos no território palestiniano, em guerra há mais de 19 meses.
"uma gota de água no oceano"
Para o responsável do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Tom Fletcher, a autorização de entrada de nove camiões de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, após 11 semanas de bloqueio, já constituía "uma gota de água no oceano" das necessidades da população.
Também a agência da ONU para os refugiados palestinianos, a UNRWA denunciou que "a única coisa que entra em Gaza são bombas", numa referência às dificuldades de entrada de ajuda humanitária apesar de Israel ter levantado o bloqueio de mais de dois meses.
"A intensificação dos bombardeamentos israelitas por via aérea, terrestre e marítima causou centenas de vítimas e deslocações em massa. Durante 11 semanas, as autoridades israelitas bloquearam deliberadamente todos os mantimentos para Gaza", lembrou a UNRWA em comunicado, sublinhando que "a Faixa de Gaza enfrenta provavelmente a sua pior crise humanitária desde outubro de 2023.
Da mesma forma a Oxfam Intermón - a "filial" espanhola da confederação de combate à pobreza - considerou que "o fluxo limitado" de ajuda para Gaza "não representa qualquer progresso" e apelou à abertura de "corredores seguros" para permitir uma resposta humanitária "completa e adequada".
A organização pediu ainda o fim dos "bombardeamentos incessantes" para que a situação não continue a piorar.
Pessoas "estão famintas, mas também traumatizadas, doentes e deslocadas das suas casas"
Lembrando que há mais de 70 dias que Israel priva a população palestiniana de alimentos, água, medicamentos e mantimentos essenciais, ao mesmo tempo que intensifica a campanha de bombardeamentos, o líder da organização, Wassem Mushtaha, afirmou que dois milhões de pessoas estão à beira da fome e não só.
As pessoas "estão famintas, mas também traumatizadas, doentes e deslocadas das suas casas", alertou, em Gaza.
Por isso, acrescentou, "o fluxo limitado de ajuda para Gaza não pode ser confundido com um progresso significativo, especialmente tendo em conta a expansão da brutal campanha de bombardeamentos de Israel na Faixa de Gaza".
Israel bloqueou a entrada de qualquer ajuda humanitária ao território palestiniano a 2 de março, quando quebrou o cessar-fogo que estava em curso entre Telavive e o Hamas.