Há cerca de vinte e cinco anos, Portugal viveu outro apagão. Foi a 9 de maio de 2000 e deveu-se a uma cegonha que embateu numa linha de alta tensão em Lavos, concelho da Figueira da Foz.

Tal causou um disparo da subestação de Rio Maior, indicou mais tarde a EDP. “Inexplicavelmente”, avançaria então a empresa, o ocorrido não foi registado de imediato pelos seus sistemas automáticos de proteção. O caso chegou a ter repercussões políticas, tendo o Governo ordenado a abertura de um inquérito para apurar responsabilidades.

O apagão de 2000 deixou a parte sul do país sem luz — incluindo Lisboa, margem sul do Tejo, Alentejo e Algarve —, tendo durado menos do que o desta segunda-feira: cerca de duas horas. Aconteceu pelas 22h e deixou a capital e outras localidades sem luz na rua, nem semáforos, com a agravante de que era noite.

Delinquência não cresceu

Segundo notícias da época na comunicação social portuguesa, o tráfego aéreo não foi afetado (provavelmente devido à hora), mas a circulação ferroviária esteve interrompida nas regiões afetadas. Também houve espetáculos forçados a parar a meio. A Polícia de Segurança Pública reforçou efetivos na rua, mas não houve qualquer acréscimo de insegurança ou criminalidade.

A putativa culpada voadora do incidente pagou com a vida, já que a colisão a eletrocutou. É frequente as cegonhas fazerem ninhos em postes de alta tensão, não raro causando curto-circuitos sem o impacto de um apagão. No entanto, sindicalistas e ambientalistas então ouvidos pelo jornal “Público” contestaram a versão da EDP, a quem acusaram de cortar investimentos em equipamento e segurança.

Alegavam que as redes de alta tensão têm dispositivos para detetar curto-circuitos e conduzir a corrente elétrica por vias alternativas. Quaisquer interrupções não costumam durar mais do que segundos, escrevia então no diário o professor José Pinto de Sá, do Instituto Superior Técnico. A hipótese que alvitrava (e criticava) era a de haver sistemas seletivamente desligados.

Dissuasão e remoção

A revista “Visão” contava, em 2017, que a presença de animais como cegonha, águia ou do sisão (outra ave protegida) é tida em conta na conceção das redes de alta tensão. São instalados elementos para afastar essas aves dos pontos mais sensíveis da rede. Noutros casos, chegam a ser transferidos ninhos para outros locais, sob a vigilância do Instituto de Conservação da Natureza.

O “Inimigo Público”, suplemento satírico do Expresso, já recordou o “apagão da cegonha” numa publicação esta segunda-feira. Há vídeos de acesso livre sobre o assunto no arquivo da RTP.