
Henrique Gouveia e Melo diz que já tomou uma decisão sobre a candidatura à Presidência da República, mas não quer "desconcentrar" os portugueses das legislativas de maio.
Em entrevista ao Diário de Notícias, respondeu a Luís Marques Mendes, que o acusou de fazer de conta que não é candidato e diz que o importante neste momento “é que o público em geral esteja concentrado nas propostas mais imediatas que vão definir a governação dentro de dois meses”.
O ex-chefe do Estado Maior da Armada diz que o facto de não assumir a candidatura não o obriga a ficar em silêncio.
“Se os portugueses querem ouvir a minha opinião sobre um determinado assunto, não me sinto obrigado a ficar calado. Agora, tento ao máximo não intervir na política partidária e nas opções partidárias que estão em cima da mesa.”
Sobre a defesa europeia, o almirante, que passou à reserva em dezembro, considera-a frágil e “preguiçosa” por depender demasiado dos Estados Unidos. “Era impensável há 20 anos termos um conflito desta dimensão na Europa. Neste momento, descobrimos que estarmos protegidos pelo amigo americano e não consideramos termos uma capacidade autónoma de proteção pode sair-nos caro”.
“Estamos a acordar tarde, mas não fomos só nós. Foi a Europa toda e, portanto, não vou culpar os anteriores presidentes. Estávamos um bocado distraídos. Todos na Europa, não é? Na base da boleia americana (...) Mas fomos muito preguiçosos.”
Por cá, lembrou que há mais de um ano que avisou os governantes da vulnerabilidade das Forças Armadas, mas foi atacado pelo sistema político.
Gouveia e Melo falou, também, sobre o Estado das Forças Armadas e sobre o processo de contratação de material que considera “verdadeiramente Kafkiano”, ou seja, “muitas vezes quando são disponibilizados recursos às Forças Armadas não há tempo, sequer, no ano económico, para fazer contratação pública”.
Por fim, e questionado sobre se o Presidente da República além de ser o grande defensor da Constituição tem de ser também o grande defender da soberania, Gouveia e Melo respondeu que quem ocupa o cargo deve “uma visão a longo prazo” e não a curto prazo.
“Quando o Presidente da República se imiscui nos assuntos políticos partidários da pequena aldeia, está a imiscuir-se nos assuntos que não são dele. Depois está perder a tal visão de longo prazo. E o que ele tem de fazer é que as pessoas, que estão a discutir as coisas da aldeia, começam a discutir as coisas da cidade e do mundo.”