Um consórcio liderado pela empresa portuguesa Spaceo venceu um concurso de três milhões de euros para o desenvolvimento de um dispositivo semelhante a um 'airbag' para retirar de órbita satélites em fim de vida, divulgou esta terça-feira a empresa.

De acordo com um comunicado da Spaceo, em causa está o projeto SWIFT (Spacecraft With Inflatable Termination ou naves espaciais com terminação insuflável, em português), orçado em três milhões de euros, que prevê o desenvolvimento até 2028 de um equipamento "para acelerar a desorbitação (de satélites em fim de vida) e garantir um ambiente espacial mais sustentável".

"O SWIFT foi concebido para se tornar o equipamento padrão a bordo de todos satélites a serem lançados no futuro", refere a empresa no comunicado esta terça-feira divulgado.

O fundador da Spaceo, João Pedro Loureiro, diz, citado no comunicado, que "atualmente, os satélites completam a sua missão e permanecem na órbita terrestre durante décadas, agravando o problema dos detritos espaciais", pelo que a tecnologia proposta pela empresa "permitirá que, no futuro, os satélites sejam desintegrados de forma controlada".

"Uma vez obsoletos, iniciam uma trajetória descendente que os fará incandescer e desintegrar - contribuindo para reduzir o lixo espacial", refere o responsável.

O sistema terá "dimensões compactas", ocupando 100 milímetros cúbicos, "e quando ativado insufla uma vela de arrasto de 1,5 m2 [metros quadrados] capaz de 'abraçar' satélites do tipo 12U até 24 quilogramas de peso".

O cofundador da Spaceo Pedro Miguel Carneiro refere que "embora tenha sido inicialmente concebido para pequenos satélites, a conceção do SWIFT é escalável e o dispositivo poderá ser adaptado para satélites de maior porte e até constelações de satélites".

A Spaceo vai liderar a fase de desenvolvimento em solo e a fase de lançamento e experimentação orbital do projeto SWIFT e está a recrutar engenheiros aeroespaciais para reforçar a equipa, aponta.

No âmbito dos testes à tecnologia, o foguetão que a transportará chegará aos 500 quilómetros de altitude, e "a partir daí serão realizados os primeiros testes em LEO (acrónimo inglês para Low Earth Orbit, ou órbita terrestre baixa), uma das regiões mais afetadas pela acumulação de detritos espaciais".

"Quando tudo estiver concluído em 2028, é muito provável que o lançamento do SWIFT seja feito nos Estados Unidos pela SpaceX," afirma João Pedro Loureiro.

A empresa detalha que "o tempo total de lançamento do SWIFT até entrada em órbita é de aproximadamente 10 minutos, aos quais se seguirão todos os ajustes e início de comissionamento do satélite".

Assim, "o SWIFT será um dos primeiros sistemas espaciais portugueses em ação em órbita desde que a indústria nacional se estreou com o PoSAT-1 em 1993", e caso o SWIFT se torne padrão a nível mundial, "todos os futuros satélites poderão integrar o SWIFT, assegurando que deixam o espaço de forma segura no final da sua vida útil".

A Spaceo salienta que atualmente "o processo de remoção de satélites inativos -- e existem cerca de 9,900 a sobrevoar a Terra -- pode demorar décadas".

Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, também citado no comunicado, refere que "o SWIFT é um excelente exemplo de como a inovação nacional pode desempenhar um papel fundamental na sustentabilidade das operações espaciais", reforçando "a posição de Portugal no setor aeroespacial".

O consórcio integra ainda mais três empresas europeias: a luxemburguesa GomSpace, a francesa SpaceLocker e a neerlandesa SolidFlow.

O projecto SWIFT está integrado no programa ARTES (Advanced Research in Telecommunications Systems) [Investigação Avançada em Sistemas de Telecomunicações) da Agência Espacial Europeia (ESA).