O Presidente francês, Emmanuel Macron, assumiu, pela primeira vez, a responsabilidade pelas divisões políticas causadas pela sua decisão de realizar eleições legislativas antecipadas no verão, afirmando que a decisão criou “mais instabilidade do que harmonia”.

O discurso, o oitavo de Macron como Presidente, foi o primeiro em mais de 60 anos, iniciado com um pequeno vídeo, com Macron a fazer a narração em voz off. “Juntos, este ano, provámos que o impossível não é francês”, afirmou, enquanto surgiam imagens da celebração do 80.º aniversário da Libertação da reabertura da Catedral de Notre Dame e também dos Jogos Olímpicos de Paris, “um momento inesquecível na vida nacional”, segundo o líder francês.

A acompanhar estes excertos, a mensagem de Emmanuel Macron era de “um país unido, de Saint-Denis ao Taiti”, além de “uma França cheia de audácia, brio, loucamente livre”. Na parte mais luminosa do seu discurso, Macron tentou apelar à união: "Conseguimos porque estávamos juntos."

Mais uns segundos e outra inovação de Macron, que aparece em grande plano no jardim de inverno do palácio presidencial. Na sua mensagem de Ano Novo, o chefe de Estado debruçou-se sobre a grave crise política em que as eleições antecipadas do verão passado mergulharam o país. Macron fez mesmo o mea culpa mais assertivo do que alguma vez tinha feito. “Tenho de reconhecer esta noite que a dissolução trouxe, neste momento, mais divisões à Assembleia do que soluções para o povo francês”, disse. “Eu reconheço-o plenamente.”

No ano que se encerrou, Macron viu a sua influência política significativamente enfraquecida pela dissolução em junho, que deu poder ao Reagrupamento National (RN), de extrema-direita, e deixou o Parlamento francês dividido em três blocos. Depois de um resultado escasso dos seus candidatos centristas nas eleições europeias do início de junho, Macron surpreendeu o país e o mundo ao dissolver o Parlamento. Naquela circunstância, indicou que a França precisava de um “momento de esclarecimento” para abordar a ascensão do RN nas eleições europeias. A popularidade de Emmanuel Macron caiu para o seu nível mais baixo este ano, com apenas 21% das pessoas a confiarem na sua capacidade de resolver os problemas, numa sondagem realizada pela Elabe em Dezembro.

As eleições que se seguiram traduziram-se numa rejeição decisiva da sua agenda centrista, e fizeram do RN o maior partido num Parlamento fraturado. Macron começou por nomear o político conservador e ex-negociador do Brexit, Michel Barnier, como primeiro-ministro em setembro. No entanto, Barnier foi derrubado por uma moção de censura em dezembro, depois de não ter conseguido reunir o apoio da esquerda e da extrema-direita para um orçamento destinado a reduzir o défice de França (aumentou para mais de 6% em 2024).

Foi então que Macron nomeou o seu aliado, François Bayrou, como primeiro-ministro. Apelando aos políticos para que se comprometessem em 2025 com a harmonia, sugeriu que poderia ter de pedir aos eleitores franceses que voltassem a votar no próximo ano. “Também lhes pedirei que decidam sobre algumas questões-chave, porque cada um de vós terá um papel a desempenhar”, destacou, aludindo a possíveis referendos em 2025.

Macron mencionou ainda os desafios da política externa da França no próximo ano. Após a reeleição de Donald Trump como Presidente dos EUA, que tem repetidamente exigido um aumento dos gastos com a defesa por parte dos aliados da NATO, Macron afirmou: “A Europa já não pode delegar a sua segurança e defesa a outras potências.” Nesse sentido, o Presidente francês pediu à Europa para “simplificar as suas regras”. para encorajar mais investimento por parte das empresas.

Já a sua rival de longa data, pertencente ao partido de extrema-direita, Marine Le Pen, disse na sua própria mensagem de Ano Novo, na terça-feira, que “arrependimentos tardios ou súplicas superficiais de um chefe de Estado que foi definitivamente desacreditado não mudarão nada”. Le Pen comentou ainda que 2025 seria um “ano decisivo”, e acrescentou que a França só poderia resolver os seus problemas através de uma “decisão democrática ”.