
As eleições surgem na sequência da destituição do ex-presidente Yoon Suk Yeol, afastado do cargo na sequência de uma tentativa fracassada de impor a lei marcial em dezembro de 2024.
O Tribunal Constitucional confirmou a destituição em abril de 2025, obrigando à realização de eleições no prazo de 60 dias, conforme estipulado pela Constituição do país asiático.
A tentativa de Yoon de tomar o poder, alegando ameaças de "forças inimigas do Estado" e da Coreia do Norte, foi precedida por meses de paralisia política.
Nos últimos seis meses, o país teve três presidentes interinos, sendo o mais recente Lee Ju-ho, o ministro da Educação, que assumiu o cargo um mês antes das eleições.
"Num sentido mais lato, esta eleição resume-se a um confronto entre dois campos polarizados", observou o ex-diplomata e analista da política sul-coreana Kim Won-soo, num artigo de opinião publicado no jornal "The Korea Times", em que sublinhou a insistência dos dois principais partidos em se atacarem mutuamente.
"Apoiantes de ambos os partidos estão mais concentrados na escolha de um líder que consideram ser um defensor mais forte dos seus interesses partidários do que um mediador capaz de promover uma visão partilhada para o futuro", descreveu o analista.
Entre os principais candidatos nas eleições desta semana está Lee Jae-myung, do Partido Democrático, que, de acordo com uma sondagem divulgada esta semana da Gallup Korea, lidera as intenções de voto com 49% das respostas apuradas, seguido por Kim Moon-soo, do Partido do Poder Popular, de Yoon, com 35%, e Lee Jun-seok, do Partido da Reforma, com 11%.
Lee, que perdeu para Yoon por uma margem de 0,73% em 2022, candidato ao cargo pela terceira vez, é saudado pelos seus apoiantes como um herói da classe trabalhadora.
Candidato pelo principal partido da oposição, Lee exibe como credenciais o facto de ter trabalhado numa fábrica, antes de se tornar um advogado defensor dos direitos humanos, e depois político.
A ausência ao longo da campanha de um debate sobre a política externa da Coreia do Sul e sobre os desafios que se apresentam à economia do país é particularmente relevante num contexto geopolítico complexo, marcado pela guerra comercial lançada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - que impôs taxas alfandegárias de 25% sobre as importações oriundas do país asiático -, e a persistente ameaça da Coreia do Norte, com a qual Seul continua tecnicamente em guerra.
A crescente competição entre Pequim e Washington obriga também Seul a procurar um equilíbrio entre o seu maior parceiro comercial, a China, e o seu mais importante aliado em matéria de segurança, os Estados Unidos.
Internamente, o país enfrenta um acentuado declínio da taxa de natalidade --- atualmente fixada em 0,75 por mil habitantes, uma das mais baixas do mundo ---, indício de uma profunda crise demográfica.
Cerca de 44,39 milhões de eleitores estão registados para votar. A votação antecipada decorreu entre 29 e 30 de maio, e o dia da eleição, 3 de junho, é feriado nacional, com as urnas abertas das 06:00 às 20:00 locais (mais dez que em Portugal continental).
O vencedor assumirá o cargo imediatamente após a confirmação dos resultados pela Comissão Nacional de Eleições, sem o habitual período de transição de dois meses.
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