Juntas no ataque a Trump e Ventura (mas também a Montenegro) e no combate à violência contra as mulheres. Em sintonia quanto à Europa não precisar de mais armas, mas com o PAN a querer mesmo que Portugal relegue a defesa aos países maiores. E em discórdia em relação aos impostos sobre empresas e à resposta à crise da Habitação. Assim estiveram, frente a frente, Mariana Mortágua e Inês Sousa Real.

A escolha cromática da indumentária das intervenientes haveria de servir de espelho do que seria a troca de ideias entre as líderes do Bloco de Esquerda e do PAN, que se defrontaram, esta noite, na CNN. Trajadas com as mesmas cores, mas vestindo-as ao contrário.

Tarifas Trump

As taxas sobre as exportações aplicadas pelo presidente dos Estados Unidos da América e a resposta europeia e nacional às mesmas mereceram a abertura do debate. Mariana Mortágua não hesitou em chamar “bully” a Donald Trump – e também a André Ventura - e a defender que a pior coisa que se pode fazer perante um bully é “ceder à chantagem”.

Para a líder do Bloco de Esquerda, aumentar tarifas como retaliação só fará com que toda a gente “viva pior”. A alternativa, afirma, deve ser “taxar os gigantes tecnológicos” e prevenir a recessão com “investimento público” e “medidas de distribuição de riqueza que protejam as pessoas”.

Inês Sousa Real apoiou o ataque ao líder do Chega, criticando-o por se colocar ao lado de Trump, mas dirigiu também palavras de censura a Luís Montenegro. A porta-voz do PAN diz que viu com “incompreensão” as medidas de resposta às tarifas, anunciadas pelo primeiro-ministro, classificando-as como “requentadas”.

Aos olhos de Inês Sousa Real, a solução para o protecionismo norte-americano passa pela aposta na transição para a economia verde, com a aplicação dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) destinados à mesma – que, afirma, estão por executar e deviam ser prioridade.

Defesa e despesa com armamento

Rui Valido/CNN

Porque os tempos são “desafiantes”, nas palavras da líder do PAN, Inês Sousa Real defende que deve continuar o apoio à Ucrânia - tanto em ajuda humanitária, como em armamento, mas não, neste último ponto, no que toca a Portugal.

A porta-voz do PAN entende que Portugal não tem de comprar mais armas, sobretudo porque tem outras urgências em mãos, como “habitação” e “a crise climática”. Considera mesmo que o país deve deixar-se desse tipo de esforços e passar a bola “aos grandes”.

“Não podemos estar a canalizar todos os nossos esforços para a defesa, quando esse papel nem cabe a Portugal. Há outros países com outra capacidade de armamento e intervenção que Portugal não tem”, defendeu.

Também Mariana Mortágua entende que o que não falta à Europa é armas, mas, sim, cooperação estratégica entre si. A líder do Bloco de Esquerda sublinhou que a União Europeia é uma “potência militar” - que não só tem um orçamento com Defesa superior ao da Rússia como produz e vende armas para fora.

“É falso que a UE precise de mais armas para se defender. É mentira”, declarou, atribuindo a inverdade a “propaganda” para ajudar as indústrias de armamento e afirmando que o próprio Putin “tem aliados” dentro da UE.

Mariana Mortágua considera que “nunca esteve em causa” a ajuda à Ucrânia, mas que também se devia tentar acabar com a guerra “insistindo na paz” - coisa que, alega, “a União Europeia nunca fez”.

Ambiente e Impostos

É quando se começa a falar de impostos que se começam a ver as diferenças entre Bloco de Esquerda e PAN – um partido da esquerda profunda e outro que acaba de se assumir como de “centro”, embora “progressista”.

Inês Sousa Real começa por atacar a isenção de impostos sobre produtos petrolíferos, porque, aponta, só ajuda as grandes petrolíferas - esse dinheiro, aponta, deve ser usado para financiar passes sociais gratuitos.

Diz, no entanto, que, “não diaboliza as empresas”, porque não são todas grandes poluidoras, e, por isso, defende a descida do IRC.

Mariana Mortágua considera a proposta “um erro”. Diz que a ideia vai beneficiar também as grandes empresas e que vai custar ao Estado dinheiro que lhe faz falta para combater o aumento das desigualdades.

Rui Valido/CNN

Habitação

O segundo momento em que o debate mais aqueceu foi quando se falou da crise da Habitação. Inês Sousa Real considera que, para resolvê-la, é preciso que o património público seja disponibilizado para arrendamento, que haja programas que permitam colocar casas à venda a preço acessível para a classe média, que haja cooperativas de aquisição e que se aplique a isenção de IMI e de IMT.

Mas Mariana Mortágua atira que o que as propostas que o PAN tem para a habitação já estão todas em vigor.

Para a líder do Bloco de Esquerda, a única solução para travar o problema da habitação é mesmo colocar um teto às rendas. Uma ideia que, sublinha, teve grandes resultados em países como a Alemanha e os Países Baixos.

Criminalidade e Violência contra as Mulheres

Porque tudo está bem quando acaba bem, Mariana Mortágua e Inês Sousa Real voltaram à convergência plena no final do debate. No que toca ao tema da violência contra as mulheres, ambas defenderam o reconhecimento da violação como crime público e o combate à promoção da cultura misógina nas redes sociais, promovida muitas vezes, assinalaram, por aquele que deixam subentendido como o inimigo comum: a extrema-direita.