
A presidente de uma Organização Não-Governamental (ONG) alertou para os sinais de depressão entre os portugueses carenciados na Venezuela, sobretudo os mais velhos, pelas dificuldades económicas e pela saída do país de luso-venezuelanos.
O alerta foi dado em Caracas por Lucecita Ferreira, presidente da Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas (SBDP), organização fundada em 1969 e que em Maio celebrará o 66.º aniversário.
"Nós já comprovámos, na nossa instituição, que as pessoas quando não são capazes de se sustentar, chegam também a ter depressão e há um ambiente de tristeza dentro das famílias. Também quando não cobrem as necessidades, ou há solidão, porque os filhos de muitos dos que hoje damos ajuda tiveram de emigrar da Venezuela e (...) ficaram sozinhos", disse.
Lucecita Ferreira falava à agência Lusa à margem de uma jornada de distribuição de alimentos e medicamentos a portugueses e luso-venezuelanos carenciados, tendo sublinhado que "a saúde mental é uma área muito sensível".
A presidente da SBDP explicou que a situação económica na Venezuela está complicada, afetando tanto nacionais como estrangeiros, e inclusive a comunidade de empresários, que se mantém solidária, mas também com dificuldades.
"Temos já praticamente 20 anos em que a Venezuela não é a mesma. Quando a parte económica não funciona bem, há repercussões e as pessoas não podem cobrir as necessidades. Isso afeta também os empresários que continuam a ser solidários. Claro que quando as empresas estão numa boa situação, é mais fácil ajudar, mas os nossos empresários portugueses não são indiferentes e fazem um esforço para nos ajudar", disse.
Explicou ainda que a SBDP realiza também almoços de solidariedade, bingos e rifas para angariar fundos para poder continuar a ajudar os carenciados.
"Temos recebido também ajuda tanto do Governo de Lisboa como da Região Autónoma da Madeira. É uma pequena ajuda, mas que é significativa também para a nossa obra", frisou.
Sobre a SBDP explicou que está composta por um grupo de 30 mulheres voluntárias que se reúnem cada 15 dias para coordenar as atividades de entrega de medicamentos, alimentos e roupa.
"Prestamos assistência uma vez ao mês. Estamos, neste momento, a aliviar ou a suster vidas de 200 pessoas na parte médica, incluindo medicação e na parte de alimentos a 130 famílias. Entregamos também um cabaz alimentar e distribuímos a nossa sopa, a sopa da esperança, a quem chega até aqui", disse.
Lucecita Ferreira, explicou ainda que a SBDP está situada em Macaracuay, no leste de Caracas, e que, no dia da distribuição de ajudas, disponibiliza transporte gratuito entre a estação do Metro de La California e a sede daquela ONG.
Em paralelo, a SBDP dá formação aos compatriotas em costura e doçaria portuguesa. Também na elaboração de cestas, uma arte que diz estar a desaparecer.
Já em fase de inscrição de interessados, está um projeto para avançar com aulas de língua portuguesa para crianças luso-descendentes.
A jornada de distribuição de ajudas é aproveitada pela SBDP para facilitar um convívio entre os beneficiários, que inclui uma parte musical portuguesa.
"São pessoas que saíram de Portugal há muitos anos e a música faz parte da nossa cultura. Neste mês comemorámos o 25 de Abril [de 1974], para recordar essa data histórica importante e porque na nossa instituição também cuidamos da parte cultural", explicou.