"Há cidadãos do meu país que têm empresas, restaurantes, hotéis. Sem nós quem é que limpa as vossas casas ou trabalha na agricultura?" - questionou, em declarações à Lusa, o líder da comunidade do Bangladesh em Lisboa Rana Taslim Uddin, comentando os dados do barómetro da imigração, divulgado na terça-feira.
Neste inquérito alargado da Fundação Francisco Manuel dos Santos divulgado por ocasião do Dia Internacional das Migrações, que se celebra hoje, 63% dos inquiridos querem uma diminuição dos imigrantes do subcontinente indiano, por oposição a outras origens de imigrações.
O mesmo estudo conclui 67,4% dos inquiridos dizem que os imigrantes contribuem para mais criminalidade e 68,9% consideram que ajudam a manter salários baixos, ao mesmo tempo, que 68% concordam que "são fundamentais para a economia nacional".
"Há muito desconhecimento e muita ignorância. Os portugueses não nos conhecem e muitos não nos querem conhecer. Queremos viver em paz e sermos respeitados, apenas", desabafou, recordando que os imigrantes contribuem com cinco vezes mais para a segurança social do que recebem em prestações sociais.
"Estamos cá para trabalhar e criar dinheiro. Para Portugal e para nós", afirmou Rana Taslim Uddi, que vive em Portugal há 35 anos.
"As pessoas preferem acreditar em mentiras de partidos em vez de nos conhecerem", afirmou o dirigente, que se queixa de ser perseguido nas redes sociais e nos discursos políticos.
"Há um partido que anda atrás de mim para me atacar. Que mal é que eu fiz? Estou cá há muito tempo, estou legal, estou a trabalhar", afirmou Rana Taslim Uddin, que lamentou os resultados do estudo mas também questiona a forma como as questões são feitas.
"Nós somos diferentes. Se perguntam [a um português] se gosta mais de um ou de outro, é normal que prefiram quem fala a sua língua ou tem a mesma cor", considerou.
Por seu turno, a vice-presidente da Casa do Brasil, Cyntia de Paula, rejeitou a ideia de que o sentimento negativo em relação aos brasileiros tenha diminuído, embora admita que a xenofobia esteja mais dirigida para os imigrantes oriundos do subcontinente indiano porque são mais diferentes e falam outra língua.
"A xenofobia é muito mais potencializada por discursos políticos contra essas comunidades, que são muito percecionadas que 'não são como nós'", considerou a dirigente, recordando que os anteriores estudos não contemplavam os imigrantes oriundos da Índia, Bangladesh e Nepal.
E por isso, Cyntia de Paula não crê nos dados que apontam para uma descida de 57% para 52% na percentagem de portugueses que quer uma diminuição de brasileiros no país, numa comparação com um estudo semelhante de 2010.
"Os dados sobre o Brasil podem não refletir o sentimento dos portugueses, o que pode haver é um aumento do sentimento negativo em relação a outras nacionalidades", considerou, queixando-se também de um aumento do "discurso político" contra os imigrantes.
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