
O caso Spinumviva voltou e com novos dados. A informação, divulgada pelo semanário Expresso, não faltou no debate entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, que acusou o líder do PSD de só na véspera do derradeiro frente-a-frente tornar publicação uma declaração que já devia sê-lo há um ano.
O que está em causa? Uma nova declaração de interesses enviada a pedido da Entidade para a Transparência e na qual Luís Montenegro revela mais sete clientes da Spinumviva, que até então eram desconhecidos. Já esta quinta-feira, o jornal Correio da Manhã revela que, só no último ano, cinco destes clientes receberam do Estado mais de 100 milhões de euros.
Confrontado com esta notícia, Montenegro declarou que: “Os contratos que essas empresas têm com o Estado não dependem de mim, nunca dependeram de mim” e não só negou qualquer interferência como disse não admitir essa “insinuação”.
Horas depois, e através das redes sociais, o PSD recuperou o tema mas por um ângulo diferente. O deputado social-democrata, Hugo Carneiro, informa os seguidores de que o Grupo de Trabalho do Registo de Interesses - do qual é membro - pediu à Entidade para a Transparência “o registo de quem acedeu à informação” dada pelo primeiro-ministro entre 29 e 30 de abril.
Membro desse grupo de trabalho é também Pedro Delgado Alves, vice-presidente da bancada socialista, e que, avançou o jornal Observador, terá acedido à declaração de interesses de Luís Montenegro. Em declarações à SIC Notícias, o próprio admite que consultou os dados mas não os divulgou, ainda que, esclarece, mesmo que o tivesse feito não teria cometido nenhuma ilegalidade.
“É função, missão, dos deputados que integram o Grupo de Trabalho do Registo de Interesses consultar as declarações. (…) A única coisa que comentei foi com outro membro do grupo de trabalho, Fabian Figueiredo, que era que parecia que apareciam ali coisas que não tinham sido declaradas antes. (…) Não só não somos responsáveis por qualquer fuga de informação como acima de tudo é informação que não é reservada porque não pode ser reservada”, esclareceu Pedro Delgado Alves.
Opinião diferente tem o social-democrata Hugo Carneiro que também na antena da SIC Notícias disse que podemos estar perante um crime: “É a mesma coisa, se quiserem, de ter um funcionário da Segurança Social ou da Autoridade Tributária a começar a divulgar informação sobre os contribuintes ou os utentes. Como todos compreenderão, isso é crime. E aqui, neste caso, provavelmente também é crime.”
Líderes trocam (novas) acusações
Indiferentes não ficaram os líder de PS e PSD. À margem da Ovibeja, Luís Montenegro insistiu na tese dos "factos distorcidos".
"Mais uma vez, os factos aparecem distorcidos, manipulados, e fui até acusado pelo líder do PS de o ter feito, quando, afinal de contas, não tenho a certeza, mas parece que o Partido Socialista tem muito mais a ver com isso do que eu", afirmou, acrescentando que há indícios de que o PS "tem muito mais a ver" com a divulgação dos clientes da empresa Spinumviva.
Já Pedro Nuno Santos não só negou esta acusação como a devolveu, acusando o primeiro-ministro de estar a tentar desviar as atenções do essencial.
“Pedro Delgado Alves, como outro deputado, tem acesso, e é suposto ter, ao 'site' da Entidade para a Transparência. Agora não é isso que é revelante, o que é relevante é termos alguém a liderar os destinos do país que oculta informação que é suposto dar”
Também em defesa de Delgado Alves entrou em cena o porta-voz do PS, Marcos Perestrelo, que em declarações à imprensa, sublinhou que o partido “apenas pode dizer que não divulgou, consultou", afirmou, acusando o primeiro-ministro e líder do PSD de “um padrão de opacidade e falta de transparência” e de “manobra de diversão para distrair do essencial”.
A declaração atualizada e os novos clientes
Numa nova declaração submetida no portal da transparência dos titulares de cargos políticos, Luís Montenegro acrescentou sete novas empresas para as quais trabalhou na empresa fundada pelo próprio e que passou recentemente para os seus filhos.
Essa informação foi conhecida pouco antes do debate com o líder do PS, Pedro Nuno Santos, na quarta-feira à noite, tendo este lançado a suspeita de que o próprio Luis Montenegro o tenha feito com o propósito de influenciar o debate.Montenegro refutou durante o debate e reiterou hoje que não entregou a nova lista de clientes da Spinumviva por decisão própria, mas por pedido da Entidade para a Transparência. "Por mim [a informação] não era pública", manteve hoje Montenegro, que recusou ainda interferência em contratos do Estado com empresas ligadas à Spinumviva.