"Quando uma Câmara Municipal faz um anúncio de demolição de casas, as pessoas não têm alternativa. São pessoas que trabalham, mas não conseguem encontrar uma alternativa de habitação, a solução para estas pessoas forem despejadas, desalojadas, se as suas casas forem demolidas, é viver debaixo daquela ponte que ali está à frente", afirmou a coordenadora do BE.

A dirigente bloquista falava aos jornalistas durante uma ação de solidariedade no bairro clandestino das Marinhas do Tejo, que a autarquia de Loures pretende demolir, localizado em Santa Iria da Azóia.

Embora a Câmara de Loures já tenha informado que vai avançar com as demolições, ainda não se realizaram e não têm data prevista, mas Mariana Mortágua considera que o despejo é iminente, estando apenas a mobilização dos moradores e ativistas a retrair as intenções da autarquia de "entrar com as máquinas" no espaço onde está hoje o bairro clandestino.

Questionada sobre os argumentos da Câmara Municipal de que as demolições se justificam por razões de insalubridade, Mortágua reconheceu a falta de condições no bairro mas contrapôs que "mais insalubre do que isto é viver debaixo da ponte".

Mortágua disse que a autarquia de Loures não tem dado alternativas aos moradores do bairro ilegal, acrescentando que houve até ameaças de "retirar os filhos" de quem lá vive e que há quem tenha arriscado perder o emprego para garantir que as suas casas não são demolidas.

A líder do BE alertou que as situações dos moradores refletem um ciclo de empobrecimento e exclusão, afetando pessoas com empregos precários e salários baixos que não conseguem pagar uma habitação e acabam por construir a casa "onde conseguem e onde podem".

"A partir do momento em que são forçados a ter de defender a sua casa de 'bulldozers' da Câmara Municipal, podem perder o trabalho", acrescentou.

Para a líder do Bloco, em causa está um caso de "violência que o Estado está a impor a famílias que estão a trabalhar" e que se veem nesta situação como resultado da crise na habitação que o país enfrenta.

"Quando há uma crise que expulsa as pessoas do centro de Lisboa e a classe média para viver cada vez mais longe das cidades, as pessoas que antigamente viviam nesses bairros vão ser empurradas para viver em barracas, e as pessoas que viviam em barracas vão ser empurradas para viver em tendas, e as pessoas que não podem viver em tendas vão ser empurradas para viver na rua", argumentou.

A bloquista insistiu que a solução para esta crise passa pela regulação e tetos nas rendas, para garantir que são adequadas aos salários, assegurar que as casas destinadas, por exemplo, a negócios de alojamento local são usadas para fins habitacionais e uma maior construção pública.

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Lusa / Fim