"Ser médico em Moçambique é, muitas vezes, exercer a arte de curar em condições que desafiam até os mais sólidos princípios da ética médica", refere uma nota do bastonário, sobre o dia do médico moçambicano, que se assinala hoje, e as dificuldades da classe.

"É trabalhar perante a escassez de materiais, medicamentos e recursos humanos, enfrentando limitações que colocam à prova o nosso compromisso com a vida. É devastador, nas múltiplas dimensões, para o propósito com que nos comprometemos quando decidimos abraçar esta profissão. E, ainda assim, todos os dias mantemos viva a missão de servir ao nosso povo", aponta Gilberto Manhiça.

Para o bastonário, o dia de hoje simboliza "não apenas o orgulho" pela profissão, "mas também a coragem, a entrega e a resiliência" dos médicos moçambicanos ao longo dos anos.

Na mensagem defende que a regulamentação do exercício da medicina e do ato médico "constitui um dos pilares fundamentais para garantir a excelência nos cuidados de saúde em Moçambique".

"A legislação adequada assegura que apenas profissionais devidamente qualificados e com formação necessária possam exercer a medicina, promovendo a confiança da população no sistema de saúde. Além disso, a regulamentação estabelece padrões éticos e técnicos que guiam a nossa prática diária, protegendo tanto os pacientes quanto os próprios médicos, assegurando a qualidade e a segurança dos cuidados prestados", afirma o bastonário.

Refere também que para que possam "exercer a medicina de forma plena e eficaz, é imprescindível" que as condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde (SNS) "sejam constantemente melhoradas, para que sejam o exemplo".

"O ambiente de trabalho tem um impacto direto na nossa capacidade de oferecer cuidados de saúde de qualidade. A falta de recursos adequados, a escassez de profissionais, a sobrecarga de trabalho e as deficiências nas infraestruturas são desafios que comprometem o bom desempenho das nossas funções e fere o nosso bom nome, por circunstâncias que nos são alheias", diz.

Aponta que a "melhoria das condições de trabalho não é apenas uma necessidade, mas um imperativo nacional" para garantir que os cidadãos "tenham acesso a cuidados de saúde dignos e eficazes" e que "o fortalecimento do sistema de saúde passa necessariamente pela valorização" da profissão, "com investimentos contínuos em capacitação, em melhores condições de trabalho e na criação de um ambiente favorável à prestação de cuidados".

O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, prometeu hoje continuar a investir na formação, valorização e melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde.

Citado num comunicado da Presidência da República, Daniel Chapo destaca o contributo dos médicos para o desenvolvimento do sistema nacional de saúde, apontando a sua "resiliência, o profissionalismo e o elevado sentido de humanidade" com que exercem a profissão, reconhecendo que muitas vezes é em "contextos desafiadores".

Na mesma nota salienta-se que o Presidente reafirma "o compromisso do Governo em continuar a investir na formação, valorização e melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde".

A Lusa noticiou em dezembro que o número de médicos no SNS de Moçambique cresceu 12% desde 2019, atingindo quase 3.000 no final de 2023, enquanto o de enfermeiros aumentou 38%, segundo o anuário do Instituto Nacional de Estatística.

De acordo com o documento, com dados do período de 2019 a 2023, Moçambique fechou 2023 com 2.966 médicos no SNS, contra 2.655 cinco anos antes.

PVJ (PME) // ANP

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