A lei da nacionalidade "pode ajudar", mas "ainda há muita coisa a fazer" pelas comunidades portuguesas, como o acesso ao ensino da língua portuguesa em França, alertou hoje a presidente da associação Cap Magellan.

"Em França, é muito difícil aprender português, há cada vez menos professores. A França, que é um país observador da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], não faz nenhum esforço para promover o ensino da nossa língua, que é vista como uma língua de emigração, enquanto o ensino do italiano ou do espanhol é bastante valorizado", disse Lurdes Abreu à agência Lusa.

À margem da campanha "Sécur'Été 2025 -- Verão em Portugal", realizada esta manhã, na fronteira de Vilar Formoso, no concelho de Almeida, no distrito da Guarda, a responsável escusou-se a comentar o alargamento a bisnetos de portugueses emigrados, ao abrigo da nova lei da nacionalidade.

"A Cap Magellan é uma associação apartidária que privilegia as ações de cidadania, o que não quer dizer que não sejamos uma associação política", começou por dizer, acrescentando que, nesta possibilidade, "cada caso é um caso".

Lurdes Abreu lembrou que nas ações realizadas, em França, pela maior associação de jovens lusodescendente no país, é "promovida sempre a dupla cultura, pois faz todo o sentido uma pessoa que nasceu em França continuar a ter uma ligação com Portugal".

No entanto, a presidente da Cap Magellan realçou que há outras situações por resolver, como no caso do ensino da língua portuguesa.

Para a responsável, "o português tem que deixar de ser visto como uma língua desvalorizada, por isso ainda há muita coisa a fazer para as comunidades em França".

"Se esta lei da nacionalidade pode ajudar, muito bem, mas espero sinceramente que o Governo também se interesse por estes problemas", considerou.

"Depois não podem dizer que os emigrantes não falam a língua, quando não têm acesso ao ensino do português em casa", concluiu.

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Emídio Sousa, disse à Lusa, à margem da campanha "Sécur'Été 2025" [Verão Seguro 2025], que a alteração proposta pelo Governo, "da nacionalidade ir até aos bisnetos, à quarta geração, é uma boa solução".

"Queremos que os portugueses continuem a ser portugueses, em qualquer parte do mundo", sublinhou.

"Hoje, ser português tem um valor acrescido. Muitos dos lusodescendentes que perdiam a ligação a Portugal quando chegavam às terceiras gerações, hoje voltam a ter o interesse em ter a nossa nacionalidade e penso que estamos a dar resposta a essa vontade", considerou o governante.

Esta possibilidade dos bisnetos de portugueses emigrados poderem adquirir a nacionalidade automaticamente, se assim pretenderem, será também "uma forma de recuperar o sentimento de pertença de uma geração que já tem poucas ligações ao país", disse.

"Fiz recentemente uma ronda por vários consulados em França, onde a procura por ser português volta a estar presente nas terceira e quarta gerações, que, a priori, já podiam não ter grande ligação ao nosso país, mas está-se a manifestar, de facto, essa vontade de ser português. É um fenómeno difícil de perceber e de explicar", afirmou Emídio Sousa.

Em setembro, deverá ser discutida a nova lei da nacionalidade, que prevê o acesso à naturalização por ascendência portuguesa até aos bisnetos.