
Os cortes no sistema de proteção social implementados pelo Governo finlandês estão a expor um número crescente de pessoas ao risco de se tornarem sem-abrigo, informou hoje a Amnistia Internacional.
O país nórdico é mundialmente conhecido pelo seu modelo "Housing First", uma política social que reduziu o número de sem-abrigo em 80% entre 1980 e 2023.
No ano passado, a Finlândia registou um aumento do número de sem-abrigo pela primeira vez em doze anos, de acordo com a autoridade de habitação Ara.
Um novo relatório publicado esta semana pela secção finlandesa da Amnistia conclui que os cortes orçamentais introduzidos pelo governo de direita corroeram as redes de segurança que tinham permitido à Finlândia manter baixos níveis de sem-abrigo.
"Trata-se de uma mudança verdadeiramente lamentável. A Amnistia usou a Finlândia como um exemplo internacional de uma política baseada nos direitos humanos que garante o direito à habitação", disse à agência de notícias AFP Mariko Sato, especialista em direitos económicos e sociais da Amnistia Internacional e autora do relatório.
O Governo finlandês, liderado pelo primeiro-ministro Petteri Orpo, chegou ao poder em 2023 e introduziu cortes orçamentais no sistema de proteção social, numa tentativa de equilibrar as finanças públicas e reduzir a dívida pública do país.
Consequentemente, um número crescente de pessoas com baixos rendimentos vê agora ameaçado o seu direito a uma habitação condigna, refere o relatório.
Isto também se aplica às pessoas com emprego, que anteriormente raramente estavam expostas ao risco de condições de habitação precárias na Finlândia.
"Mais de mil milhões de euros em cortes na proteção social, implementados ou planeados, já atingiram rápida e duramente os indivíduos e as famílias com baixos rendimentos", alertou Mariko Sato.
"Cada vez mais pessoas com baixos rendimentos se encontram numa situação de habitação precária e o governo está a planear novos cortes que irão afetar novamente as mesmas pessoas", lamentou.
O Governo finlandês também abandonou o seu objetivo de erradicar completamente a situação de sem-abrigo, mas pretende eliminar a situação de sem-abrigo de longa duração até 2027.
Para atingir este objetivo menos ambicioso, o governo afirmou que irá implementar "medidas para garantir a habitação das pessoas mais vulneráveis".