O empresário Marco Galinha assumiu o controlo do GMG em 2021. Há muito que o grupo de comunicação social, dono do Diário de Notícias, do Jornal de Notícias, da rádio TSF e do jornal desportivo O Jogo, atravessava uma situação financeira difícil. Com uma estrutura acionista em permanente acerto, o GMG, vivia períodos de elevada instabilidade. A entrada do empresário Marco Galinha, sem qualquer ligação anterior à comunicação social, foi mais um episódio na história conturbada deste grupo de media.

Em 2022, um ano depois de ter assumido o controlo do GMG, Galinha decidiu abdicar da maioria do capital. Nesse ano, como explicou na comissão parlamentar de cultura, a 9 de janeiro de 2024, Galinha iniciou um conjunto de contactos com a Union Capital Group (UCAP), uma sociedade financeira, registada nas Bahamas. A UCAP gere, entre outros, o World Opportunity Fund (WOF), igualmente sediado nessa jurisdição opaca. O World Opportunity Fund tinha interesse em investir na comunicação social portuguesa, e Marco Galinha aproveitou o embalo.

A versão que Marco Galinha foi apresentar ao Parlamento tem, no entanto, componentes que o empresário decidiu omitir.

Depois de termos falado com cinco dezenas de pessoas e de termos trabalhado centenas de documentos, chegámos ao nome de Álvaro Sobrinho. O empresário angolano, com vários processos judiciais a correr contra ele em Portugal, está, afinal, por detrás do WOF. Quando o confrontámos, numa entrevista que nos deu a 23 de janeiro de 2024, Sobrinho não negou a ligação. Explicou-a, aliás, ao detalhe.

A versão de Sobrinho destaca os problemas de liquidez que o GMGenfrentava, situação que, afirma, serviu de pretexto ao desafio que dois representantes do GMG, Luís Bernardo e José Paulo Fafe, lhe colocaram. Os dois consultores de comunicação perguntaram ao empresário angolano se este teria interesse em investir no GMG. Álvaro Sobrinho diz-nos que negou o convite, mas, em contrapartida, abriu a porta do WOF a Fafe e a Luís Bernardo.

Por interferência direta de Álvaro Sobrinho, o negócio de venda de uma participação no GMG, que garantiu ao WOF o controlo do grupo, concretizou-se em setembro de 2023. Nessa data, José Paulo Fafe foi nomeado pelo WOF presidente executivo (CEO) do GMG.

A gestão de Fafe ficou marcada pela ameaça de despedimento de 200 dos 500 trabalhadores do GMG, mas também por atrasos no pagamento de salários e por alterações significativas no JN, TSF e O Jogo que, efetivamente, descaracterizaram as marcas. Só o DN escapou à tempestade.

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) quis saber o nome dos verdadeiros beneficiários do WOF. José Paulo Fafe nunca quis responder ao regulador.

Na última cena desta saga, a ERC tomou a decisão inédita de retirar os direitos de voto ao WOF. E o fundo foi forçado a vender a participação que tinha adquirido no GMG. E, em setembro de 2024, o GMG voltou para as mãos de Marco Galinha. Entretanto, o grupo partiu-se ao meio - a TSF, o JN e O Jogo foram vendidos; o DN mantém-se debaixo da asa de Galinha.

Ficha técnica:

Investigação SIC-Expresso – Jornalistas – Pedro Coelho, Micael Pereira e Filipe Teles. Imagem – João Venda. Edição de imagem – Andrés Gutierrez. Grafismo – Pedro Moreira e João leitão. Coordenação Luís Garriapa. Direção – Marta Brito dos Reis e Bernardo Ferrão.