
Numa entrevista que decorreu na Casa de Saúde S. João de Deus, Gonçalo Jardim, enfermeiro especializado em saúde mental, falou sobre o flagelo da droga na Região, onde atribuiu ao ‘bloom’ e ao ‘gorby’ a responsabilidade de colectar cada vez mais ‘reféns’, quando o assunto são os abusos de consumo de substâncias psicoactivas.
A banalização do consumo é um problema instalado na sociedade, de acordo com o profissional de saúde, que explicou que a normalização de um episódio de consumo, atribuído muitas vezes como natural da idade, pode culminar num problema grave, sublinhando que muitas vezes esta defesa de comportamento desviante parte não só dos pares, como dos próprios pais.
Esta banalização acontece tanto entre os pares, mas também pode ser criada pelos próprios pais. O que vemos é que pode haver aqui alguém, uma entidade, um pai, uma mãe, que possa permitir que fumar um charro é normal. Provavelmente na altura deles foi normal e podem achar que nesta altura também é normal. Aquelas estruturas que os pais tiveram para dizer “basta não vou consumir mais isto”, podem não ser as mesmas que o filho tenha, porque o mesmo pode não ter capacidade de deixar ou então optar por continuar a consumir, porque até ao momento correu tudo bem. Gonçalo Jardim
De acordo com o enfermeiro, a esmagadora maioria dos consumidores são jovens, com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos.
Ao DIÁRIO-Saúde, rubrica presente no YouTube, Gonçalo Jardim explicou as consequências que as drogas sintéticas podem gerar não só a nível físico, como a degradação da aparência, mas principalmente na saúde mental, como, por exemplo, activar uma perturbação bipolar ou até mesmo levar à demência.
Perante um quadro onde um toxicodependente não tem capacidade para compreender que necessita de tratamento, existem formas da família ou amigos intervirem e pedirem ajuda, segundo o especialista em saúde mental.
Gonçalo Jardim chamou ainda à atenção para o fosso que existe entre o tratamento e o regresso à comunidade.
Se não tiver uma doença propriamente, em contexto de patologia dual, como a esquizofrenia ou a doença bipolar, bem definida, o que acontece é um tratamento episódico e, depois da alta, ficam um pouco à sua mercê. Em alguns casos conseguem recorrer aos centros de saúde, que é sempre recomendado, para ver se há seguimento, mas é sempre voluntário. É algo que se tivessem uma boa estrutura, uma boa base de competências sociais, sabiam que tinham de encaixar dentro da sua agenda pessoal logo que saíssem das instituições e, ter eventualmente seguimento médico. Desde que se saia desta porta entramos no mundo real e, temos aqui estimuladores que activam aquilo que tentamos endireitar, o que pode levar, facilmente, a que voltem a consumir.
O abuso exacerbado de substâncias psicoactivas tem impacto não só no dependente químico, mas também naqueles que o rodeiam.
Questionado sobre se existe uma rede de apoio para estas famílias, Gonçalo Jardim referiu que para além do encontro mensal que acontece na Casa de Saúde S. João de Deus, que não tem conhecimento de mais nenhum.