O agroturismo, uma forma de turismo rural que combina atividades agrícolas com experiências de lazer, tem-se afirmado como uma alternativa para revitalizar áreas rurais, promover a economia local e valorizar o património cultural e natural. Portugal, que desfruta de paisagens diversificadas e ricas tradições agrícolas, é um bom exemplo deste fenómeno, uma vez que um número crescente de turistas tem vindo a procurar o interior do país em busca de experiências autênticas e de uma maior proximidade com a natureza. Mas será este um fenómeno duradouro ou meramente efémero?

Os estudos mais recentes apontam para um futuro promissor, sugerindo que o interesse pelo agroturismo veio para ficar, impulsionado pelo desejo de escapar ao quotidiano urbano e de reencontrar o refúgio e a tranquilidade oferecidos pelo campo. Esta é, de facto, uma tendência global, que valoriza um turismo mais sustentável, alicerçado na autenticidade das experiências e na preocupação com o bem-estar. A pandemia de covid-19 foi um dos principais catalisadores deste tipo de turismo, ao levar muitas pessoas a preferirem destinos menos movimentados e com forte ligação à natureza. Estes destinos destacam-se pela oferta de atividades como a colheita de produtos agrícolas, workshops de agricultura biológica, passeios em quintas, visitas guiadas por trilhos ecológicos, degustação de alimentos regionais ou estadias em alojamentos típicos. Em conjunto, estas experiências permitem aos turistas participar no ritmo de vida rural, reforçar a sua educação ambiental e descobrir tradições e modos de vida muitas vezes já quase esquecidos.

Importa, no entanto, salientar que o agroturismo enfrenta uma série de desafios estruturais que precisam de ser resolvidos. Em Portugal, é evidente que um destes obstáculos é a falta de infraestruturas básicas em muitas regiões rurais. Estradas em mau estado, acesso limitado a transportes públicos, deficiências graves em serviços essenciais, como a saúde e os serviços bancários, e a fraca conectividade digital, são entraves significativos à consolidação e expansão deste tipo de turismo. Por outro lado, o futuro do agroturismo dependerá da sua capacidade de se dar a conhecer e de promover uma diversificação inteligente da oferta territorial. As ferramentas digitais desempenham aqui um papel crucial. Plataformas de reservas online e redes sociais facilitam a ligação entre produtores rurais e turistas, promovendo um acesso mais direto e eficaz aos serviços disponíveis. Adicionalmente, integrar outros produtos turísticos na cadeia de valor, como o enoturismo, o ecoturismo e o turismo cultural, pode alargar o leque de atividades disponíveis e atrair uma maior diversidade de visitantes. Contudo, a formação dos operadores locais, como agricultores e pequenos empresários, é frequentemente insuficiente em áreas-chave, limitando a capacidade de oferecer um serviço de qualidade, de gerir recursos de forma eficiente e de promover eficazmente os ativos disponíveis. Assim, é fundamental capacitá-los com os conhecimentos adequados e fomentar a criação de plataformas colaborativas que incentivem a partilha de recursos e saberes. Parcerias entre municípios, associações locais, universidades e empresas privadas são, também, essenciais para criar um ambiente onde o agroturismo possa crescer e prosperar de forma virtuosa.

A sustentabilidade ambiental é outro tema central. Embora o agroturismo esteja geralmente associado a práticas sustentáveis, o aumento da pressão de visitantes em algumas regiões pode levar à sobre-exploração dos recursos naturais, comprometendo a biodiversidade e os ecossistemas locais. Para mitigar estes riscos, é essencial implementar medidas rigorosas de gestão ambiental, promovendo práticas agrícolas regenerativas e protegendo o meio ambiente. Neste contexto, as alterações climáticas constituem um enorme desafio para o agroturismo, já que a agricultura, a sua base de suporte, é diretamente afetada por fenómenos como secas prolongadas, chuvas intensas e outros eventos extremos. Estes fenómenos, cada vez mais frequentes em Portugal, prejudicam tanto a produção de alimentos como as experiências que podem ser oferecidas aos turistas. A adoção de tecnologias e práticas agrícolas resilientes, como sistemas de irrigação eficientes e culturas adaptadas às novas condições climáticas, é assim essencial para mitigar estes impactos e garantir a viabilidade do setor a longo prazo. Paralelamente, tecnologias agrícolas modernas, como sensores de monitorização de solo e drones, podem melhorar a produtividade agrícola e enriquecer a experiência turística, permitindo aos visitantes conhecer práticas inovadoras no setor primário.

Podemos então dizer que o agroturismo não é apenas uma oportunidade económica; é também uma forma de reforçar os laços entre as pessoas e a terra, valorizando o que é autêntico e essencial. A consolidação deste produto turístico pode transformar o turismo global, mas isso requer um esforço conjunto entre comunidades locais, autoridades públicas, empresários e turistas. Em Portugal, o papel das políticas públicas é essencial para alcançar este objetivo. Entre incentivos financeiros, programas de formação, certificações de qualidade, criação de regulamentações claras, melhoria das infraestruturas rurais e promoção de políticas que valorizem o agroturismo como uma componente estratégica do turismo nacional, há muito que pode ser feito pelo Governo e pelas autarquias. Se tivermos sucesso, podemos criar uma forma sustentável de revitalizar as regiões rurais, preservar patrimónios culturais e ambientais e construir ligações significativas entre o campo e a cidade.

NOTA: Este artigo apenas expressa a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.