Ao longe, a aldeia “é um presépio bonito”, descreve Alves Redol, que em 1946 dedicou um livro a esta terra duriense. Impressionado com a vida árdua dos transportadores do Vinho do Porto, nos barcos rabelos, este labor torna-se personagem central de “Porto Manso” onde também descreve a chegada do caminho de ferro ao local em que “a neblina da manhã amaciava os longes”. Hoje, Porto Manso integra a rede de Aldeias de Portugal.
Pala: albufeira e citrinos
Banhada pela foz do rio Ovil e pela albufeira da Pala, em Porto Manso, aldeia da freguesia de Ribadouro, no concelho de Baião, crescem doces e sumarentas laranjas da Pala, que já na época deixavam memória: “Está ali também à vista do Douro e acasalado com laranjeiras e mais árvores de fruto. Escorre de um monte maneiro em cujo cimo marulham pinheiros…”.
Refira-se que a localidade da Pala é rica e famosa na produção de citrinos. Conhecidos precisamente como Citrinos da Pala, na produção local destaca-se a Laranja da Pala. Devido às condições únicas da região, estes citrinos não requerem processos de conservação artificiais, e conseguem manter-se naturalmente na planta até ao final do verão.
Além da contemplação, as águas do Douro que aqui correm tranquilas - daí designação de Porto Manso – e o cais da Pala, prestam-se a desportos náuticos que pode reservar junto da Bello’Giro (Tel. 912954574): motos de água, wakeboard, boias de arrasto e banana boats, além de passeios privados de barco fazem parte da oferta.
Habituado a estas paragens, Eduardo Vilaça, responsável de comunicação da empresa sedeada em Baião, descreve a localização como o Douro “verde, mais virgem e autêntico, semelhante ao que era antigamente”. Criada em 2020, a empresa também promove passeios de buggy, segway e de bicicleta, bem como caminhadas de descoberta da região.
“Todos os caminhos vão dar a Roma”
Por aqui, “Todos os Caminhos vão dar a Roma”, seguindo o trilho da antiga calçada romana que durante séculos ligou Bracara Augusta (Braga) e Emérita Augusta (Mérida). Na zona mais elevada do percurso ergue-se o Castro de Porto Manso, rodeado de muralhas e fossos defensivos. Nesta viagem ao passado, um passeio de 15 km leva-o à aldeia de Tongobriga, já em Marco de Canaveses, onde a estação arqueológica do Freixo revela uma antiga cidade romana. Antes de partir, descubra produtos locais e artesanato na Dolmen - Centro de Promoção de Produtos Locais (Tel. 255542154), em Baião.
Prolongue a lição de história à hora do descanso: antiga casa senhorial do século XVIII, a Casa da Torre (Tel. 912295991) oferece vistas deslumbrantes sobre o rio e o vale do Douro, em quatro alojamentos de diferentes tipologias, rodeados de vinha e laranjeiras, com piscina comum. Nas imediações, uma curta viagem conduz até ao Convento de Ancede e à casa de Tormes, hoje Fundação Eça de Queirós.
Viajar com Eça em Baião
“Os vales fofos de verdura, os bosques quase sacros, os pomares cheirosos em flor, a frescura das águas cantantes, as ermidinhas branqueando nos altos, as rochas musgosas, o ar de uma doçura de paraíso, toda a majestade e toda a lindeza. Deixando resvalar o olhar, observe os vales poderosamente cavados.” É desta forma que Eça de Queiroz descreve a paisagem observada ao longo do percurso pedestre que une a estação ferroviária de Aregos (Tormes) à Fundação Eça de Queiroz, na obra “A Cidade e as Serras”, a última do escritor.
O Caminho de Jacinto, integrado na Rota do Românico, termina na Casa de Tormes, lar da Fundação Eça de Queiroz (Tel. 254882120), “o mais alto lugar queirosiano”. Este espaço acolhe um núcleo museológico referente à vida e espólio do escritor, “incluindo documentos e objetos pessoais”, refere Anabela Cardoso, diretora-executiva, que pode ser visitado. Tem ainda uma aposta forte na vertente educativa, cultural e também turística, com alojamento através da Casa Silvério (Tel. 254882120), e experiências gastronómicas, por marcação, para proporcionar “uma imersão na cultura e gastronomia da época do escritor, recriando sabores e ambientes que celebram o legado de Eça”.
Relaxar junto ao Douro
Envolvido por uma paisagem bucólica e acolhedora, o Portovella Lodges & Bungalows (Tel. 255552309) é um pequeno refúgio nas margens do Douro. Inaugurado em 2020, o projeto de alojamento, em Ribadouro, prima pelo sossego, privacidade e contacto com a natureza.
Seis bungalows, um estúdio com jacuzzi e vista para jardim, uma suíte familiar e uma master suite compõem a oferta do empreendimento. Todos os alojamentos dispõem de kitchenette, varanda ou pequenos terraços com acesso direto ao jardim. Conte ainda com uma piscina infinita virada para o Douro, parque infantil e um amplo jardim de laranjeiras.
Porto Manso, no concelho de Baião, é uma das “Aldeias onde reina o sossego” destacada na coleção de guias “Portugal Autêntico” editada pelo Expresso.