
O Centro de Arqueologia e Artes (CAA) de Beja vai acolher, entre 14 de setembro e 31 de dezembro de 2024, a exposição “Paizana: Imagens Suspensas” , uma retrospectiva dedicada ao pintor António Paisana, mais conhecido como Paizana. Comissariada por José António Falcão, uma mostra abrange cerca de seis décadas de actividade criativa do artista, cuja obra reflecte uma profunda meditação sobre o mundo a partir de Beja.
Paizana, uma figura incontornável da cena artística de Beja, transcende a esfera regional, sendo reconhecida como um dos criadores mais relevantes da sua geração em Portugal. O pintor, que tem evitado os circuitos comerciais tradicionais da arte, distingue-se por uma abordagem singular à pintura, recusando a representação direta da realidade visível e focando-se, em vez disso, na “visão interior”. Segundo o próprio, as suas imagens são “carregadas da própria alma”, nascendo de um impulso profundo para explorar novas dimensões da existência.
A exposição, que faz parte do programa do CAA – uma instituição que promove o diálogo entre o património e a arte contemporânea –, inclui uma vasta coleção de trabalhos inéditos, demonstrando o percurso de Paizana na busca de expressões do Sagrado e da transcendência, num contexto cultural muitas vezes dominado pela superficialidade.
Carreira entre Portugal e Europa
Nascido em Lisboa em 1941, António Paisana iniciou os seus estudos artísticos no atelier de Álvaro Duarte de Almeida, em Lisboa, nos anos 60, e prosseguiu a sua formação em instituições de prestígio como o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra e a École Supérieure d’ Architecture et des Arts Visuels, em Bruxelas, onde foi bolseiro. O seu percurso artístico inicial envolveu experiências com Arte Óptica e Cinética, mas ao longo do tempo Paizana avançou-se das correntes de mercado, optando por uma abordagem mais figurativa e simbólica.
Estabelecido em Beja desde 1980, Paizana lecionou na Escola Secundária D. Manuel I e continuou uma carreira paralelamente como ilustrador e conferencista, enquanto desenvolvia a sua produção artística em paralelo.
Uma reflexão sobre a sociedade e a arte
No seu atelier em Beja, Paizana reflectiu sobre o papel da arte face às complexidades da sociedade contemporânea, marcadas pela saturação de imagens e pela superficialidade cultural. O artista rejeita esta atenção de estímulos visuais, preferindo criar “imagens pintadas”, que estão suspensas no tempo e no espaço e que desafiam as percepções provocadas pela realidade.
A exposição no CAA, comissariada por José António Falcão – historiador de arte e membro da Academia Nacional de Belas-Artes –, promete oferecer uma visão profunda e abrangente da obra de um pintor que encara a arte como um “jogo infinito”, onde não há lugar para pressas nem cedências.