Fundada em 1346, a Quinta da Atela, em Alpiarça, é hoje um dos nomes mais sonantes da região do Tejo. Mas o percurso que levou a propriedade ao patamar atual deve muito à determinação de Anabela Tereso, empresária que transformou um investimento quase circunstancial num projeto de vida.

Quando adquiriu a quinta, a exploração vitivinícola estava praticamente inativa. O objetivo inicial passava apenas por recuperar e valorizar o espaço, mas o potencial histórico e agrícola do local falou mais alto. “Comecei a vir algumas vezes e percebi que havia aqui algo especial. Não estava ligada ao mundo dos vinhos, mas senti interesse em apostar”, recorda.

A aposta revelou-se certeira. Com o apoio de uma equipa de enólogos, os vinhos da Quinta da Atela conquistaram prémios nacionais e internacionais, ajudando também a afirmar a região do Tejo, que durante anos foi vista com desconfiança em relação a zonas mais consagradas, como o Douro ou o Alentejo. “Hoje, já sentimos uma perceção diferente. Os vinhos do Tejo ganharam notoriedade e a Atela contribuiu para isso”, sublinha.

Apesar do reconhecimento, os desafios não desapareceram. A escassez de mão-de-obra e os custos elevados da poda manual obrigam a ponderar a mecanização futura. Outra preocupação é o preço praticado na restauração, que multiplica por três ou quatro o valor de uma garrafa comprada diretamente na quinta. “O consumidor acaba por beber menos, o produtor vende menos e todos perdem”, lamenta.

A sustentabilidade é outro tema incontornável. A Quinta da Atela aposta em matéria orgânica nas vinhas e procura soluções amigas do ambiente, ainda que reconheça que o setor exige apoios para ser viável a longo prazo. Paralelamente, o enoturismo tem ganho peso no projeto, com suítes, visitas às vinhas, provas comentadas e salas para eventos, algumas com capacidade para 350 pessoas. “Se não fosse o enoturismo, teria sido mais difícil dar a conhecer os nossos vinhos”, admite Anabela Tereso.

Entre as joias da coroa da quinta destaca-se uma aguardente envelhecida durante 20 anos em madeira, legado do anterior proprietário e distinguida em 2022 como uma das melhores nacionais. Mais recentemente, o vinho “Anabela” foi considerado o terceiro melhor tinto de Portugal, reforçando o prestígio conquistado pela marca e projetando ainda mais o nome de Alpiarça no panorama vínico nacional. A propriedade guarda também um tesouro natural pouco explorado: uma das maiores turfeiras do mundo, cuja gestão é partilhada com a Câmara Municipal. Para Anabela Tereso, falta ambição para transformar esse património num polo turístico de referência. “Temos aqui um diamante que precisa de ser lapidado”, afirma.

Com 22 castas plantadas e vinhos premiados que levam o nome de Alpiarça além-fronteiras, a Quinta da Atela tornou-se um exemplo de como tradição e inovação podem caminhar lado a lado. Sem grandes planos a longo prazo, Anabela prefere pensar “um dia de cada vez”, mas com a certeza de que o caminho está a ser feito com determinação, teimosia e paixão pela terra.