Paulo Jesus prepara-se para terminar o seu mandato como presidente da secção de futebol da LAAC – Liga dos Amigos de Aguada de Cima, após quase quatro anos de liderança intensa, marcada por conquistas desportivas, decisões difíceis e uma defesa intransigente da justiça e igualdade no futebol distrital.

Numa entrevista exclusiva à TVC/Notícias de Águeda, o dirigente fez um balanço profundo do seu percurso, destacando os desafios da gestão de um clube que compete nas divisões inferiores, mas com ambição, identidade e ligação à formação.

Desafios de liderar um clube de base comunitária

“É difícil liderar um clube como a LAAC. Estamos constantemente a lidar com emoções, com pais e familiares, e a ter de tomar decisões que nem sempre agradam a todos. Muitas vezes temos de colocar o clube acima dos interesses pessoais”, confessou Paulo Jesus.

Durante os quatro anos de mandato, destacou que teve de tomar “decisões muito duras, algumas contra a minha própria personalidade”, nomeadamente despedir treinadores da equipa sénior, algo que classificou como uma das experiências mais dolorosas. “Essas decisões custam, sobretudo quando envolvem amigos, mas têm de ser tomadas para proteger a instituição.”

Conquistas e momentos de orgulho

Apesar das dificuldades, Paulo Jesus orgulha-se dos resultados alcançados, não apenas na vertente sénior, mas principalmente na formação. “Ver miúdos de 3 ou 4 anos a dar os primeiros pontapés na bola, e depois receber convites de clubes como Sporting, FC Porto e Benfica para os nossos jovens treinarem lá, é algo que nos dá força para continuar.”

Entre os momentos desportivos mais marcantes, o presidente recordou a final da Taça Sub-23, disputada frente ao Anadia, onde a LAAC foi finalista vencida, mas conseguiu a desforra poucos dias depois ao vencer a Supertaça Sub-23, no Estádio de Aveiro. “Foi um dia de emoções intensas. Ver o nosso trabalho reconhecido dessa forma é algo que fica para a vida.”

Crítica ao sistema federativo e às desigualdades

Paulo Jesus nunca escondeu o seu perfil crítico e inconformado. Na entrevista, voltou a apontar o dedo à Associação de Futebol de Aveiro, questionando o modelo de funcionamento e a desigualdade entre clubes:

“Muitas vezes, quem cumpre é mais penalizado do que quem não cumpre. Há clubes que iniciam épocas com dívidas, mas todos sabemos que isso não é fiscalizado de forma igual. A LAAC é um clube cumpridor, sem dívidas, e mesmo assim fomos penalizados em situações injustas.”

O dirigente afirmou ainda que, nos bastidores do futebol distrital, há medo de represálias: “Em debates com outros presidentes, muitos concordam comigo em privado, mas publicamente preferem o silêncio. Eu nunca tive medo de dizer a verdade.”

Aposta na renovação e no futuro da formação

Paulo Jesus destacou que a próxima época da LAAC será marcada por uma forte aposta na juventude. “Está a ser construída uma equipa sénior com uma média de idade de 22 anos. Além disso, conseguimos preparar o caminho para termos todos os escalões de formação ativos, algo que era uma meta antiga e que vai ser uma realidade.”

Um até breve?

Apesar de se afastar do cargo, Paulo Jesus garante que não é um adeus definitivo. “Vou continuar a apoiar a LAAC do lado de fora. Este é o clube da minha terra, do meu coração. Vou estar presente nos jogos, a torcer.”

O dirigente defende que é saudável haver renovação: “Estar demasiado tempo à frente de uma instituição pode trazer desgaste. Os ciclos devem ter um limite de dois ou três anos para dar espaço a novas ideias e projetos. Estou de consciência tranquila, fiz tudo o que estava ao meu alcance.”

A família, a grande base de apoio

Durante a entrevista, Paulo Jesus não escondeu a emoção ao falar da família. “Foram eles que mais sofreram com a minha ausência. Estar à frente de um clube exige dedicação total, rouba tempo aos amigos e à vida pessoal. Cheguei a abdicar de coisas simples, como um dia de praia, por causa do futebol.”

Futuro e ambições políticas

O futuro de Paulo Jesus poderá passar pela política, embora não para já. O dirigente revelou ter recebido convites de mais do que um partido para ser candidato à Câmara Municipal de Águeda ou à Junta de Freguesia de Aguada de Cima. “Não aceitei porque preciso de tempo para mim e para os meus projetos pessoais, mas admito que é uma ambição que um dia poderei seguir. Já realizei um sonho de infância ao ser presidente da LAAC. Talvez um dia venha a concretizar o segundo sonho: ser presidente da Junta.”

Mensagem final

Paulo Jesus deixou uma mensagem de confiança aos simpatizantes e à freguesia:

“A LAAC tem futuro. Precisamos de todos os que gostam de futebol e da nossa terra. Apoiem os miúdos, apoiem a formação, apareçam no campo. O apoio humano vale tanto quanto o financeiro.”

Fotos: Ryan Rubi (TVC/Notícias de Águeda)