
“Anuncio-vos uma grande alegria!”
É desta forma que o Anjo fala aos pastores, nos arredores de Belém, na noite de Natal.
O motivo da alegria é: “Nasceu-vos, hoje, um Salvador!”
Por toda a terra, onde é possível celebrar o Natal, o anúncio dos anjos permanece. O convite à alegria é o mesmo. E curioso, este convite continua a ser dirigido aos “pastores”. Ou seja a todos os que se sentem marginalizados, deprimidos, tristes, ostracizados, descriminados… Há ainda tantos homens e mulheres que ainda não sabem o que é dignidade humana, a fraternidade, a solidariedade… há ainda tanta violência verbal e física, doméstica e não só, que ofende e atenta a vida de muitos. Há ainda tantos cuja vida continua a ser um pau de dois bicos: de terra em terra, atravessando mares e fronteiras, de barraco em barraco, explorados e rejeitados…
Os presépios de hoje tem muitas representações ou tornam presente muitas realidades desumanizantes. Tirar o Presépio da esfera pública é promover a ignorância e a indiferença face aos presépios dos tempos modernos. Diria que há ainda muito por fazer, por anunciar e denunciar. O Presépio tem essa força.
O Presépio, esse admirável sinal do mistério da encarnação de Deus na história humana, continua a suscitar maravilha e enlevo e a ser um verdadeiro estímulo para este nosso tempo.
Ele oferece-nos a possibilidade de vivermos na esperança da Esperança. É verdade que ele nos coloca diante da contemplação de um caminho espiritual e humano. Mas também nos confronta com a rigidez do nosso quotidiano. Precisamos da criatividade e da bondade do presépio e daquilo ao qual ele nos abre e inspira. Um cristianismo sem imaginação traduz-se num cristianismo infértil, desprovido de esperança, fragilizado nas suas raízes…
É importante voltar a ouvir as dores de parto de Maria, e imaginar a aflição de José! É importante ouvir de novo os anjos a cantar. É importante voltar a sentir o cheiro daquele estábulo, nada próprio para recém-nascidos. É importante voltar ao espanto dos pastores. É importante olhar de novo os céus para ver os sinais em forma de estrela. É importante voltar a pôr-se a caminho com os Magos, ainda que seja longo, com enganos. É importante voltar a ouvir a harmonia de toda a criação que se uniu para louvar a Deus por tão grande mistério.
O Natal é uma provocação inspiradora. Abre-nos as portas da Esperança numa nova humanidade, pacificada, harmoniosa e fraterna. Não deitemos para o lixo o verdadeiro Natal, como se tratasse de um papel de embrulho que não serve para mais nada. Mas, admitamos, por uma vez que seja, que o nascimento de Jesus é o centro do Natal. E se não conheces que é este Jesus procura-O. O sinal continua a ser o mesmo: “encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
Votos de um santo e fecundo Natal para todos!
Pe. Francisco Carreira
Arcipreste de Vila Nova de Famalicão