
As autoridades europeias estão em alerta após a divulgação de um relatório considerado “incriminatório” sobre a presença e atividade da Irmandade Muçulmana em França. O documento, revelado pelo jornal francês Le Figaro, aponta para uma estratégia deliberada de infiltração nas estruturas democráticas, com potenciais consequências para a coesão nacional e os princípios fundamentais da República.
Segundo o relatório, a organização desenvolve um “trabalho de subversão” meticuloso e silencioso, para influenciar, a longo prazo, normas e políticas públicas, especialmente em áreas sensíveis como a laicidade do Estado e a igualdade de género. “A realidade desta ameaça (…) coloca o risco de um ataque ao tecido associativo e às instituições republicanas (…) e, mais amplamente, à coesão nacional”, lê-se num dos excertos revelados.
O alerta lançado por Paris ecoou rapidamente em Bruxelas. Um conjunto de eurodeputados levou o caso ao Parlamento Europeu, exigindo respostas e medidas concretas. Entre os signatários está o português João Cotrim de Figueiredo, que não só subscreveu o pedido formal, como publicou um vídeo nas redes sociais, em que expressa preocupação com a eventual replicação da ameaça noutros países europeus, nomeadamente em Portugal.
“Ficámos a saber que a Irmandade Muçulmana em França tem uma estratégia discreta, paciente, mas assumida, de criar ou infiltrar centenas de associações cívicas, escolas, autarquias e instituições do Estado, esperando o momento em que possam criar aquilo que o estudo designa como ‘ecossistemas islâmicos’ de base local”, alertou o eurodeputado português.
Cotrim de Figueiredo deixou um apelo claro às autoridades nacionais: “E em Portugal? Como de costume, ninguém sabe. (…) Por isso, sem medo, quero chamar a atenção para esta ameaça agora antes que seja tarde demais. E quero apelar às autoridades de segurança interna para apurarem o que se passa com a Irmandade Muçulmana em Portugal e que divulguem as respetivas conclusões.”
A possível presença da organização no território nacional não está confirmada, mas o apelo à vigilância levanta uma questão sensível sobre o grau de preparação e de resposta das entidades portuguesas. O alerta surge num contexto europeu cada vez mais tenso, com preocupações crescentes sobre radicalização, terrorismo e interferência nas democracias.
A Irmandade Muçulmana, fundada no Egipto nos anos 20, tem sido descrita por vários países ocidentais como um movimento islamista de fundo político-religioso, cuja ideologia colide com os valores democráticos e os direitos humanos universais.
Sem levantar alarmismos, o eurodeputado português pede uma investigação rigorosa e uma resposta transparente por parte dos órgãos de segurança e inteligência nacionais. O debate está agora lançado em instâncias europeias e poderá ter reflexos imediatos nas políticas de segurança e integração dos Estados-membros.