Dois candidatos prometem colocar todas as suas decisões nas mãos de chatbots de inteligência artificial se forem eleitos. Mas, para já, enfrentam questões éticas e legais que podem afastá-los.

Victor Miller, residente na cidade de Cheyenne, no estado norte-americano do Wyoming, anunciou a sua candidatura ao cargo de mayor com uma promessa eleitoral radical: não tomar qualquer decisão pessoalmente. Em vez disso, Miller pretende delegar todas as suas funções a um chatbot de inteligência artificial que ele próprio desenvolveu. Esta decisão insólita coloca a tecnologia no centro da administração pública, prometendo uma revolução no modo como as cidades podem ser geridas.

O chatbot, denominado VIC (Virtual Integrated Citizen, ou Cidadão Virtualmente Integrado), será o verdadeiro decisor. Miller, nas suas palavras, será apenas um “fantoche de carne e osso”, cuja única função será assinar documentos e marcar presença nas reuniões. O objetivo de Miller é demonstrar a capacidade da inteligência artificial de tomar decisões racionais e eficientes, sem influências pessoais ou políticas.

Simultaneamente, no Reino Unido, um candidato ao parlamento britânico adotou uma abordagem semelhante. Esta candidatura visa testar os limites da tecnologia e a sua aplicação na política, mas enfrenta uma série de questões éticas e legais. A substituição de decisões humanas por algoritmos de inteligência artificial levanta preocupações sobre responsabilidade, transparência e a própria essência da democracia.


A candidatura de Victor Miller a mayor de Cheyenne e de um candidato não identificado ao parlamento britânico marca um momento decisivo na interseção entre tecnologia e política. O uso de inteligência artificial (IA) como principal decisor em funções governamentais é, sem dúvida, uma inovação audaciosa, mas traz consigo um debate profundo sobre o futuro da governança e o papel da tecnologia na nossa sociedade.

A promessa de Miller, de ceder todas as decisões a um chatbot, pode parecer uma manobra de marketing ou um experimento social, mas toca em questões centrais sobre a eficiência e a imparcialidade na política. A inteligência artificial pode, em teoria, analisar dados de forma mais objetiva e tomar decisões baseadas em lógica e evidência, livre de preconceitos e pressões políticas. Isto poderia potencialmente resolver alguns dos problemas crónicos da política moderna, como a corrupção e a parcialidade.

No entanto, esta abordagem não está isenta de críticas. Em primeiro lugar, há questões legais. A quem se atribui a responsabilidade por uma decisão errada tomada por um chatbot? Quem responde pelas consequências de uma ação ou omissão? A legislação atual, tanto nos EUA como no Reino Unido, não está preparada para lidar com estas questões. Além disso, a falta de transparência no funcionamento dos algoritmos de IA pode ser uma barreira significativa. Sem uma compreensão clara de como as decisões são tomadas, a confiança pública na IA pode ser baixa.

Eticamente, a utilização de IA na política também é questionável. A democracia baseia-se no princípio de que os eleitos representam a vontade do povo. Substituir humanos por máquinas no processo de decisão pode desumanizar a política e afastar os cidadãos dos processos democráticos. A empatia, a compreensão e a capacidade de julgamento moral são qualidades intrinsecamente humanas que, até ao momento, a IA não consegue replicar.

Apesar das incertezas e dos desafios, é inegável que a inteligência artificial está a moldar o futuro de várias áreas, incluindo a política. A candidatura de Miller e do político britânico é um sinal de que estamos a entrar numa nova era, onde a tecnologia e a governança se encontram de maneiras antes inimagináveis. Este é apenas o começo de um debate que, sem dúvida, se tornará cada vez mais relevante à medida que a tecnologia avança.

Em conclusão, a aplicação da IA na política oferece tanto oportunidades quanto riscos. Cabe a nós, como sociedade, decidir como equilibrar estas forças, garantindo que a tecnologia serve o bem público sem comprometer os valores fundamentais da democracia e da responsabilidade.