Com facilidade se adivinha sobre o que vou escrever hoje. Há instalada a polémica que acabou num processo judicial que tem julgamento em curso. Falo do caso dos Anjos ou irmãos Rosado e da humorista Joana Marques.
Esclareço que sobre o processo judicial em curso, não conheço nada, mas também não é ele que vai merecer a minha reflexão. Os princípios que estão em causa, esses, verdadeiramente, devem-nos preocupar.
Os Anjos são uma dupla portuguesa de vocalistas de música pop. Constituída em 1999 pelos irmãos Sérgio e Nelson Rosado. Os Anjos foram um dos grupos musicais portugueses mais bem-sucedidos do final da década de 1990 e da década de 2000.
Joana Marques é uma humorista, guionista, apresentadora de televisão e locutora de rádio portuguesa. É uma das locutoras do programa As Três da Manhã, da Rádio Renascença, com Ana Galvão e Inês Lopes Gonçalves. Se quisermos fazer um paralelo, Ricardo Araújo Pereira é um jornalista, humorista e comentador político. E, se calhar, ambos são muitas outras coisas que não são conhecidas do grande público nem terão que ser. Mas, diga-se que quando se fala de Joana Marques ou Ricardo Araújo Pereira, lembramo-nos, em primeira mão, que são dois humoristas portugueses.
Quer os irmãos Rosado, quer a Joana Marques viverão da sua arte. Cantar, sobretudo bem, não é fácil. Nem é para quem quer. Fazer humor e com sátira, não é fácil, nem é para quem quer ou se ache engraçadinho.
Qualquer artista que viva da exposição pública tem dias melhores e piores, boas e menos boas performances. O que aconteceu no Motor GP, fui um dia menos bom e uma performance que não surtiu o efeito pretendido. Os Anjos foram cantar a Portuguesa tentando um cover que não foi, propriamente, muito feliz. Ora, um cantor que canta uma música consagrada por outro é alguém que corre um enorme risco. Quando essa música é a identidade de um povo e de uma nação, o risco é maior.
Os Anjos arriscaram, diga-se em abono da verdade que, não correu bem. A Joana Marques quando faz humor usa a sátira como forma de crítica social ou pessoal que busca chamar a atenção para algo que é considerado negativo ou inadequado, ou que coreu menos bem, usando a comédia para fazer essa crítica.
Todos os dias se expõem à sátira todos aqueles que têm exposição pública. Os políticos são, por norma, os principais alvos destes humoristas. Já pensaram se cada um dos candidatos a primeiro ministro de Portugal, na última campanha para as eleições legislativas processasse e pedisse uma tão modesta indemnização, por exemplo ao Ricardo Araújo Pereira que, todos os dias os tinham como alvo num programa de humor e sátira no prime time da TV?
Já pensaram, no que todos teríamos perdido, se de cada vez que o Herman José satirizou com milhares de figuras públicas tivesse sido processado e acusado de ter provocado acne, brotoeja ou outra qualquer maleita, o que todos teríamos perdido?
Atenção que, por este caminho, podemos correr o risco de levar à barra dos tribunais e ao banco dos réus a revista à Portuguesa. Viver numa bolha, não é bom para ninguém!

Helena Terra, Advogada

“Atenção que, por este caminho, podemos correr o risco de levar à barra dos tribunais e ao banco dos réus a revista à Portuguesa ”