
A comunidade guineense está em alerta devido a graves denúncias sobre um alegado esquema de venda de vistos na Embaixada de Portugal em Bissau. Segundo relatos, existem cidadãos guineenses são obrigados a pagar até 3 mil euros para conseguir um simples agendamento consular, num processo descrito como opaco, moroso e, por vezes, inacessível.
Eduardo Djuntu Djaló, presidente da Associação de Filhos e Amigos de Farim (AFAFC), avançou ao 24_hpt, que existe um clima de desespero vivido por quem tenta obter um visto: “Não há como aceder às vagas — praticamente não existem. Dizem que abrem na plataforma, depois há uma empresa contratada para isso. Só sei que é muito complicado fazer o agendamento na embaixada. Tenho pessoas que me relatam estar há dois anos à espera.” Segundo Djaló, só mediante “mecanismos alternativos”, envolvendo alegados intermediários, é possível contornar o bloqueio, embora recuse assumir conhecimento direto destes esquemas.
O mal-estar entre a comunidade luso-guineense é evidente. “É um problema grave que vivemos. Acho que as autoridades têm de tomar medidas para resolver isto de uma vez. A comunidade está realmente muito preocupada”, denuncia Eduardo Djaló, sublinhando que a dificuldade no acesso a vistos atinge também cidadãos de outros países africanos de língua oficial portuguesa.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal já se pronunciou, com Paulo Rangel a garantir que será aberta uma investigação à atuação dos serviços consulares em Bissau, perante a gravidade das denúncias e a dimensão do problema.
Em julho de 2024, recorde-se, foi detido o alegado líder de uma rede de tráfico de vistos na Guiné-Bissau, numa operação das autoridades locais que resultou na apreensão de mais de mil passaportes e documentação associada a agendamentos consulares suspeitos. Este caso veio agravar a perceção pública sobre a fragilidade dos mecanismos de controlo e transparência dos serviços consulares portugueses naquele país africano.
A situação em Bissau representa um desafio direto à reputação de Portugal enquanto país de referência para comunidades lusófonas e lança um alerta urgente para o reforço da fiscalização e combate a práticas ilícitas que põem em causa o acesso legítimo a direitos de mobilidade.