
A realidade social retratada no estudo Portugal, Balanço Social 2024 (Carvalho et al.) não é apenas estatística — é vivida, todos os dias, nas respostas que a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) assegura em todo o país. Com presença ativa e contínua no terreno, a CVP confirma que a pobreza estrutural, a privação material e habitacional, a precariedade energética e a vulnerabilidade das mulheres e famílias monoparentais são fenómenos transversais às suas áreas de atuação.
Em 2024, mais de 35.000 pessoas foram apoiadas com o programa de apoio alimentar da CVP, através de 96 Estruturas Locais e dezenas de parcerias comunitárias. Neste esforço, destacou-se o Cartão DÁ CVP, uma resposta que promove dignidade e autonomia, com um aumento de 21% no número de pessoas abrangidas e mais de 626 mil euros recarregados. A maioria dos beneficiários são mulheres e famílias monoparentais — espelhando os mesmos padrões identificados pelo relatório nacional.
A pressão no setor da habitação foi também evidente. Os apoios económicos atribuídos através do programa Mais Feliz cresceram 47,6% face ao ano anterior, com foco no pagamento de rendas e cauções — uma resposta a uma crise habitacional que afeta gravemente os rendimentos das famílias. Face à pobreza energética, a CVP lançou um projeto-piloto para apoiar famílias incapazes de manter a casa aquecida, num país onde cerca de 20% da população vive em privação térmica no inverno.
No domínio da violência doméstica, foram acolhidas 740 mulheres em estruturas de emergência (+13,5%), com um aumento relevante de vítimas com formação superior e de nacionalidade estrangeira. Os serviços jurídicos e psicológicos da CVP registaram um aumento expressivo de 40,8% face ao ano anterior. A par da pobreza económica, a solidão e o isolamento social surge como fator de risco crescente. No âmbito do serviço de Teleassistência, a CVP recebeu mais de 32.000 chamadas, das quais 57% motivadas por situações de solidão, e efetuou cerca de 145.000 chamadas proativas para verificar o bem-estar dos utentes — muitas vezes, a única voz amiga que ouvem ao longo do dia.
No apoio às Pessoas em Situação de Sem Abrigo, os dados são alarmantes: 76% de aumento nos beneficiários apoiados pelas equipas de rua, e um aumento de 34% nas refeições diárias servidas. Contudo, a escassez de habitação acessível reduziu em 31% os acessos a alojamento, uma contradição dramática entre necessidade e capacidade de resposta.
Face à dimensão das necessidades sociais, o Presidente Nacional da Cruz Vermelha Portuguesa, António Saraiva, deixa
um apelo claro e direto:
“A pobreza que enfrentamos já não se vê só nas ruas — mas sente-se nas casas, nas mesas vazias, na solidão. E é por isso que a Cruz Vermelha tem de estar no terreno, todos os dias. Mas não o pode fazer sozinha. Precisamos de todos. Da mobilização da sociedade civil, das empresas e das entidades públicas. Precisamos de apoios para continuar a chegar a quem precisa, onde precisa, quando precisa.”
António Saraiva sublinha ainda que “a resposta social tem de ser uma prioridade nacional. Temos de inverter o ciclo da exclusão, e isso exige investimento, estratégia e compromisso. A Cruz Vermelha está pronta. Mas não chega sermos resilientes. Precisamos de meios. Só assim transformamos solidariedade em dignidade.” O ano de 2024 reafirmou a resiliência e relevância da rede da Cruz Vermelha Portuguesa, presente de forma ativa e contínua em todo o território nacional. Com as suas 159 Estruturas Locais e 8 Organismos Autónomos, a CVP mantém uma proximidade única às comunidades onde atua, conhecendo de perto as suas fragilidades, os seus recursos e, sobretudo, as suas pessoas. “Somos, verdadeiramente, a #APortaAoLado”, refere António Saraiva, Presidente Nacional da Cruz Vermelha Portuguesa.
Neste percurso, a instituição reforçou o investimento na capacitação das suas equipas técnicas e voluntárias, enquanto inovou nas respostas sociais, com especial enfoque em domínios emergentes e estruturantes: saúde mental, acolhimento e integração de migrantes, combate à pobreza energética e promoção de uma inclusão social efetiva, digna e sustentável.
Num país onde a pobreza e a exclusão social já não tem uma só face, a Cruz Vermelha reafirma o seu compromisso diário com a dignidade humana.
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