
Erro Histórico na Comemoração dos 50 Anos do 25 de Abril em Coruche
O diabo, dizem, está sempre nos detalhes. E, neste caso, a máxima faz todo o sentido. De passagem pela pitoresca vila de Coruche, reparei numa falha que vai além de uma mera questão estética ou simbólica. Na fachada da Câmara Municipal, duas tarjas gigantes assinalam os 50 anos do 25 de Abril. No entanto, algo saltou à vista de quem conhece a fundo a história militar portuguesa: a escolha da espingarda AR-10 Armalite na imagem oficial.
Depois de um almoço no restaurante Farnel, pensei que era algum erro de visão, mas não. A AR-10 que aparece nas bandeiras comemorativas não é o modelo utilizado pelos paraquedistas portugueses durante as guerras coloniais, mas sim uma versão diferente, associada a guerrilheiros inimigos que nos combatiam em Angola. Esta espingarda específica foi parte de um lote vendido ao Sudão, que posteriormente a entregou às forças que enfrentaram as tropas portuguesas.

Este erro não é apenas um detalhe técnico; é um descuido que fere a memória dos militares portugueses que enfrentaram essas armas no terreno. Trata-se de uma arma que foi usada para matar soldados de Portugal, e agora, inadvertidamente, serve de peça decorativa nas paredes da Câmara Municipal de Coruche, num contexto de celebração de liberdade e democracia.

Este tipo de erro, infelizmente, não é inédito. Em Loures, um cartaz comemorativo apresentou um cravo associado a uma AK-74, outro armamento de origem soviética, símbolo de forças opostas às nossas tropas. Em vez de investigarem cuidadosamente o contexto histórico e o material militar português, parece que o entusiasmo pela estética supera o rigor dos factos.
Ignorância? Talvez. Mas erros como este não são meras distrações. Se não sabem, perguntem. Afinal, o cuidado com a história é também uma forma de respeito pelos que a viveram.
A história merece mais do que decoração descuidada.