
A 17.ª edição da Bienal Internacional de Marionetas de Évora (BIME) arrancou esta terça-feira, 3 de junho, com um desfile pelas ruas do centro histórico, que deu o mote para seis dias de programação intensa. Até 8 de junho, 28 companhias oriundas de 10 países apresentam 30 espetáculos, numa centena de sessões, distribuídas por 15 espaços da cidade. O evento é organizado pelo Centro Dramático de Évora (Cendrev), com o apoio da Câmara Municipal de Évora.
A abertura da bienal foi marcada por uma forte adesão do público, que acompanhou o desfile inicial. Segundo José Russo, diretor do Cendrev, «a Bienal começa com este desfile, um anúncio à cidade da festa das marionetas». Para o responsável, esta é «uma festa dos bonecos» que se cruza com o quotidiano da cidade e que permite «este encontro entre as marionetas, os bonecos e a população da cidade, o público».
A diversidade de propostas é um dos pilares do certame. «Há muitos espetáculos diferentes, desde os mais tradicionais a propostas contemporâneas, com apresentações na rua e em sala, para públicos também diversos», explicou José Russo. O diretor destacou ainda que «as salas já estão muito cheias, algumas esgotadas», evidenciando a forte procura por parte dos espectadores.
O presidente da Câmara Municipal de Évora, Carlos Pinto de Sá, sublinhou a importância da BIME no panorama cultural da cidade e do país. «É um grande evento de Évora, do Alentejo e até do país, pela sua qualidade, pela importância da identidade das marionetas alentejanas e dos Bonecos de Santo Aleixo». O autarca considerou ainda que «não precisa de cartão de visita, porque já está entranhado nas gentes de Évora».
A bienal reforça a dimensão internacional do evento, com companhias vindas da Europa e da América do Sul. Para o presidente da autarquia, esta presença «traz diferentes técnicas e formas de sentir o teatro de marionetas, com propostas diversificadas que vão desde o mais apelativo ao mais desafiante». E acrescentou: «o mais importante é haver diversidade e que a cultura cumpra o seu papel — de agitar, divertir, fazer pensar e despertar consciências».
Um dos momentos marcantes da edição deste ano é a apresentação de uma marioneta gigante construída em cortiça, idealizada pelo marionetista Hélder Cavaca, em colaboração com a artista Helena Millan e outros criadores. «Isto é o caos que vivemos, representado em cortiça, uma matéria bruta que decidimos trabalhar em grande escala para mostrar o seu potencial», afirmou o artista.
A marioneta, manipulada por três pessoas, percorre as ruas com alguma dificuldade, mas com forte impacto visual. «Estamos a ter reações muito boas. As pessoas ficam espantadas ao ver a cortiça trabalhada assim, quase inalterada, mostrando o saber-fazer e o potencial deste material, que tem todas as qualidades procuradas hoje, como a sustentabilidade», explicou Hélder Cavaca. Para o artista, esta criação é também «uma semente para que algo mais aconteça».
Com espetáculos a decorrer em locais como o Teatro Garcia de Resende, a Praça do Giraldo, o Jardim Público, a Biblioteca Pública de Évora ou o Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, a bienal estende-se por todo o centro urbano, criando uma ligação entre a arte das marionetas e o património urbano. Como referiu José Russo, «Évora tem condições naturais para acolher um evento desta natureza, e a programação vai, mais uma vez, cumprir essa função de encontro entre marionetas e público».
A BIME 2025 conta com um orçamento de cerca de 170 mil euros, financiado em partes iguais pela Câmara Municipal de Évora e pelo Ministério da Cultura. A organização conta ainda com receitas de bilheteira e pequenos apoios adicionais.
Num evento que junta tradição e inovação, o município e os artistas reforçam a centralidade da cultura como motor de encontro e reflexão. Para Carlos Pinto de Sá, «os bonecos fazem parte da cultura, e a cultura tem de dar alegria, mas também provocar pensamento e crítica». Em Évora, até dia 8, as marionetas tomam conta da cidade — com magia, matéria e movimento.