Até aos 17 anos falava apenas Inglês, mas agora está cada vez mais perto de se tornar um hiperpoliglota. Hoje, aos 22 anos, Reuben Constantine fala dez línguas - e Português é uma delas (pode ver a 'prova' no vídeo mais abaixo). É que aquilo que começou como um hobby para o jovem britânico, tornou-se um vício e já tem uma legião de seguidores nas redes sociais.

O site do Fama Show entrevistou o jovem para saber como tudo começou e pasme-se: teve início na pandemia. Já lá iremos, mas antes teremos de recuar no tempo. "A minha avó morreu antes de eu nascer, mas o meu pai contava-me sempre histórias sobre ela e o facto de falar Francês. Tornou-se uma espécie de figura mítica na minha imaginação e suponho que, mesmo inconscientemente, quis imitá-la. Isto significou que, quando estava a aprender Francês na escola, senti imediatamente uma associação positiva com a língua que talvez os meus colegas não sentissem", conta. Exceto a avó, todos na sua família falam somente Inglês.

Como era "obcecado em produtividade", Reuben aproveitava a caminhada casa-escola, de dez minutos, para ouvir podcasts apenas em Francês. De repente, passou de aluno mediano para o topo da turma numa questão de meses. É que “por magia, sabia as respostas”, como revelou no seu podcast "Language Nut - a Multilingual Podcast".

No entanto, foram umas férias que os pais marcaram para o mês de agosto [já pós-confinamento] que o fez começar a ter vontade de aprender outra língua. "Pensei que seria incrível tentar falar com nativos, por isso decidi experimentar o método natural de aprender línguas com o Grego. Funcionou e, em poucos meses, já falava Grego fluentemente. A reação das pessoas quando cheguei à Grécia no verão foi absolutamente impagável, permitindo-me fazer novos amigos e ver o país com uma perspectiva diferente", recorda ao site do Fama Show.



Como esta experiência foi "extremamente enriquecedora e viciante", Reuben quis repetir com outros idiomas. Porém, a história da aprendizagem do Italiano foi mais complexa: a verdade é que Reuben trabalhava num restaurante familiar italiano desde os 16 anos, mas só depois de ter começado a trabalhar num hospital e despedir-se uma semana depois é que decidiu aprender Italiano, regressando ao antigo emprego. "Queria ser médico porque gostava de ciência e de ajudar as pessoas, mas percebi que os hospitais são um ambiente muito duro. Embora tenha vergonha de admitir, este não é um ambiente em que possa prosperar. Por outro lado, tinha muita inveja dos meus amigos que iam para a universidade estudar línguas", explica. E foi o que decidiu fazer. Hoje, estuda Francês e Grego Moderno na Universidade de Oxford, em Inglaterra.


"Foi a primeira vez que me encontrei noutro país, mas não me senti um turista"


Reuben Constantine também começou a "ensinar" inglês através da Internet e foi aí que conheceu uma família italiana que "foi a mais incrível fonte de inspiração". "Esta família é ainda uma grande amiga minha e, através das nossas videochamadas semanais, nas quais falávamos meia hora em Inglês e meia hora em Italiano, fiquei a conhecer intimamente alguns aspetos da cultura italiana, incluindo a política e a música contemporânea. Quando os visitei no verão, foi a primeira vez que me encontrei noutro país, mas não me senti um turista. Senti-me muito integrado. Foi uma sensação incrível", relembra.

"Acho que com a quarta língua, o Espanhol, percebi: 'ok, isto é um vício, porque sou viciado em aprender línguas, mas não em perfeccionismo linguístico'. Percebi que, neste momento, falo Inglês, falo Grego, falo Francês, falo Italiano, mas não falo estas línguas na perfeição", esclarece. "As línguas românicas são para mim como membros de uma família: cada um tem as suas próprias especialidades, mas são realmente muito semelhantes e, por isso, muito fáceis de aprender - embora, por vezes, misture o vocabulário de um para o outro".

"Para dizer 'Estou habituado a (fazer alguma coisa)', em Italiano, usam o adjetivo ‘abituato’, e em Espanhol, dizem ‘acostumbrado’. Por vezes misturo estes adjetivos e invento palavras como ‘habituado’ em Espanhol ou ‘acostumbrato’ em Italiano", exemplifica.



"Consigo compreender quase tudo o que ouço em Português"


Além de Francês, Grego, Italiano e Espanhol, o estudante universitário - que também já trabalhou como nadador-salvador - quis aprender Alemão, Catalão [após uma viagem a Maiorca, Espanha] e Romeno. Já o interesse no Português surgiu depois dos pais terem marcado umas férias para a Ilha da Madeira.

Questionado sobre o facto do Português ser considerada uma das línguas mais difíceis de aprender e falar, Reuben afirma que não é da mesma opinião. "Entre as línguas românicas, o Português destaca-se pela pronúncia (possui uma rica variedade de sons que se encontram em poucas outras línguas românicas) e pela gramática (possui um futuro do conjuntivo, por exemplo). No entanto, é uma língua românica e, por isso, tem uma estrutura muito lógica e um vocabulário familiar para quem fala outras línguas românicas", explica.



"Pessoalmente, consigo compreender quase tudo o que ouço em Português, mesmo que ainda não fale a língua a um nível elevado", explica. "Na minha experiência, as pessoas de Portugal, Brasil e outros países de língua portuguesa são extremamente amáveis ​​e não se importam que eu cometa erros. Incentivam-me a aprender mais e mais", acrescenta. De acordo com a sua página de Instagram, Reuben também está a aprender Russo.


"Foi um mal-entendido bastante engraçado"


Em outubro, o jovem chegou a Guadalupe, nas Caraíbas, para dar aulas de inglês durante sete meses, sendo que esta viagem faz parte do seu currículo do terceiro ano da universidade. "A experiência foi absolutamente incrível. Fiz aqui muitos amigos e tenho muitas histórias de Guadalupe em geral e da cultura local. No entanto, especificamente em relação ao ensino, acabei de perceber a sorte que tenho por ser um falante nativo de Inglês. Apercebi-me do quão difíceis são alguns aspetos da gramática e pronúncia do Inglês, e isso fez-me valorizar a minha língua nativa mais do que nunca", diz.

"Um episódio engraçado que me ocorre é quando um dos professores com quem trabalho me pediu para produzir uma apresentação numa Pen Drive. [A professora] é francesa, mas tenta falar Inglês à frente dos alunos para lhes dar a oportunidade de praticar o Inglês. Claro que ela faz muitas traduções literais do Francês. Quando cheguei à sala de aula e ela pediu a minha 'key', fiquei confuso, por isso dei-lhe a chave da minha casa. Claro que ela se referia mesmo à minha Pen Drive porque, em francês, chama-se 'USB key' ('une clé USB'). Esse foi um mal-entendido bastante engraçado", recorda.



Já sobre os conteúdos que publica nas redes sociais, o estudante destaca que se "certifica que as informações que publica são rigorosamente verificadas antes de dizer o que quer que seja", deixando "bem claro" que essa é apenas a sua opinião - e o "feedback é quase sempre positivo". Se quer começar a aprender uma língua e não sabe como, Reuben Constantine deixa ainda uma sugestão: "Encontre conteúdo que goste na língua - conteúdo lento, básico e compreensível. O YouTube é um ótimo lugar para começar."