
"Está em curso uma 'call' de âmbito internacional com vista à seleção e recrutamento da nova Direção das Artes Performativas, processo que terá a sua conclusão no próximo mês de novembro", recorda o Conselho de Administração do CCB, numa resposta escrita a questões da Lusa, referindo que, "até lá, todas as questões relacionadas com esta Unidade Orgânica serão assumidas pela sua estrutura executiva e de programação".
Ao jornal Público, no mesmo dia, Nuno Vassallo e Silva disse que Aida Tavares não tinha sido despedida, apenas informada que seria aberto um concurso para a direção artística do CCB e que em breve iria reunir-se com a programadora cultural para "discutir o futuro" e a sua ligação à instituição.
A Lusa questionou hoje Aida Tavares sobre se ponderou candidatar-se ao cargo, mas a programadora cultural escusou-se a fazer mais comentários.
A Comissão de Trabalhadores (CT) do CCB, constituída por um presidente e quatro vogais, apresentou há um mês a "demissão em bloco", referindo, num comunicado, que "a sequência dos acontecimentos dos últimos sete meses, culminando no afastamento de Aida Tavares, constitui uma quebra irreversível de confiança na administração institucional e na tutela vigente, não se reunindo, por isso, quaisquer condições para dar continuidade ao diálogo aberto, independente e democrático que é princípio basilar da CT".
No final de 2023, com a nomeação de Francisca Carneiro Fernandes para o cargo de presidente do Conselho de Administração do CCB, do qual foi exonerada um ano depois, passaram a existir naquela instituição duas unidades orgânicas: Artes Performativas e Pensamento e MAC/CCB.
Para a primeira unidade foi nomeada como diretora artística Aida Tavares, numa contratação direta em dezembro de 2023, e, para a segunda, Nuria Enguita, escolhida por concurso em março de 2024. O museu abriu em outubro de 2023 sem diretor.
O Ministério da Cultura, Juventude e Desporto, tutelado por Margarida Balseiro Lopes, garantiu hoje que "não teve conhecimento prévio da cessação de funções da diretora artística do CCB". A ministra esteve esta semana no CCB, em Lisboa tendo-se reunido com o Conselho de Administração.
"Mais se informa que esta é uma matéria da exclusiva competência do Conselho de Administração", lê-se numa resposta escrita a questões da Lusa.
Aida Tavares assumiu o cargo em 15 de dezembro de 2023, a convite de Francisca Carneiro Fernandes, uma contratação que visava acompanhar o novo "ciclo estratégico" da instituição.
Esta gestora cultural foi substituída no cargo de presidente do CCB pelo historiador Nuno Vasallo e Silva, decisão justificada pela tutela com a "necessidade de imprimir nova orientação à gestão da fundação", "para garantir" que assegure "um serviço de âmbito nacional, participando num novo ciclo da vida cultural portuguesa".
A então ministra da Cultura Dalila Rodrigues foi ouvida no parlamento em dezembro a propósito da exoneração, tendo acusado o seu antecessor, Pedro Adão e Silva, de ter feito um "assalto ao poder" no CCB, garantindo "que acabaram os compadrios naquela instituição".
As declarações da então ministra deram origem a pedidos de vários partidos para ouvir no parlamento diversas personalidades ligadas ao CCB.
Em fevereiro, Francisca Carneiro Fernandes negou no parlamento que a contratação de Aida Tavares tenha sido uma imposição de Pedro Adão e Silva.
Dias antes, o antecessor de Francisca Carneiro Fernandes, Elísio Summavielle, referira que Pedro Adão e Silva lhe tinha sugerido a contratação de Aida Tavares, situação que foi o culminar de um caminho de divergências com o anterior Governo que o levou a decidir sair do CCB no final de 2023, antes do término do último mandato.
Francisca Carneiro Fernandes justificou a criação do cargo de direção de Artes Performativas e Pensamento com o facto de considerar que "qualquer organização que programa artes performativas deve ter necessariamente uma direção artística profissional", dizendo que não foi necessário iniciar funções "para saber que esse cargo não existia no CCB".
Em relação ao "caso, ou casinho" de Aida Tavares, Elísio Summavielle escusou-se a fazer mais comentários, remetendo para as declarações da vogal Madalena Reis, na semana anterior, na mesma comissão parlamentar.
Madalena Reis -- que é agora a única vogal do Conselho de Administração, após a saída, no final de maio, de Delfim Sardo, a seu pedido - explicou que votou contra a contratação de Aida Tavares por sentir que "não havia necessidade de mudança".
"Existia uma diretora de Artes Performativas. Não tinha exatamente o mesmo perfil, mas tinha funções muito similares. Com essa diretora construía-se uma programação que era partilhada com o conselho de administração", disse.
Já Pedro Adão e Silva, o último a ser ouvido no âmbito da série de audições, defendeu que não se confirmaram as acusações de "assalto ao poder" feitas pela sua sucessora, Dalila Rodrigues.
Para Pedro Adão e Silva, as declarações "totalmente descabidas" da anterior ministra da Cultura aconteceram "por dois motivos": "Justificar uma exoneração que não teve coragem de assumir" e tentar "ocultar o ano perdido para as políticas culturais que foi o seu mandato".
Pedro Adão e Silva explicou as declarações de Dalila Rodrigues como "um mecanismo de projeção: quem diz é quem é", referindo que as pessoas nomeadas pela anterior ministra para vários cargos têm "todas ligações ao PSD". "Não fiz uma nomeação ligada ao PS", disse.
Além disso, são "tudo pessoas com o mesmo perfil da ministra", que é historiadora, afirmou então.